segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Que Futuro Para o Futebolista Português?


Sou um apreciador, confesso, das qualidades do futebolista Português, sendo o seu virtuosismo técnico reconhecido por todo o mundo - por vezes, mais até que dentro de portas. Em “A Origem do Futebol Espetáculo” referi a importância que o futebol de rua teve na formação futebolística e humana de jogadores como Luís Figo, Rui Costa, João Pinto, entre outros, todos pertencentes à denominada “Geração de Ouro” do futebol Português e, mais recentemente, em Cristiano Ronaldo. Conforme se recordarão, no referido artigo fazia, igualmente, referência ao facto dos atletas passarem vastas horas na rua a jogar, nos mais diferentes contextos, o que os dotaria de diferentes habilidades motoras.

Os estilos de vida promovidos por uma sociedade mais individualista, consumidora de bens supérfluos para o desenvolvimento da criança e com interesses cada vez mais distantes dos valores do desporto, constituem factores que têm contribuído para a diminuição do número de praticantes, o que terá como consequência a diminuição de uma possível base de recrutamento de potenciais talentos. – Conforme será do conhecimento de todos os agentes desportivos, que uma base de recrutamento alargada, aumentará as possibilidades de recrutar talentos.
          
      Cada vez mais, os seleccionadores dos vários escalões nacionais vão debater-se com a problemática de seleccionar jogadores para representar as cores nacionais – bastará olharmos atentamente para o exemplo da Selecção A, em que já tivemos de recorrer, por diversas vezes, a futebolistas naturalizados, precisamente pela falta de matéria humana capaz de representar a selecção nacional ao nível que todos esperamos.
          
        A falta de legislação adequada quanto à entrada de jogadores estrangeiros é um dos maiores problemas com que nos debatemos actualmente. Não quero, claro está, com isto dizer que sou contra a entrada de futebolistas provenientes de outras paragens nos nossos campeonatos. Defendo, contudo, que devem existir critérios de entrada mais selectivos, pois o elevado número de futebolistas estrangeiros que estão no nosso campeonato e que não acrescentam “nada de novo” ao mesmo, é demasiado elevado, retirando espaço de afirmação aos jovens futebolistas nacionais. É habitual ouvir-se, nos mais variados meios de comunicação e locais de debate futebolístico, comentários relativos a esta temática. Porém, no que toca à operacionalização de alguma medida concreta, pouco ou nada tem sido feito.

Esta questão é ainda mais preocupante quando se estende ao futebol formação, em que vemos um elevado número de estrangeiros nos planteis dos clubes nacionais. Recordo-me de ver uma equipa de juniores, de um clube “grande” do nosso futebol, formada por 19 estrangeiros. As questões imediatas que se colocam são: Esses jogadores tinham mesmo qualidade para estar nesse grupo? Se tinham, que é feito dos mesmos? A sociedade Portuguesa e profícua em situações em que ninguém é responsabilizado por erros de má gestão ou pela sua incompetência. Esta será, apenas, mais uma.

           Outra questão que contribui, em muito, para esta entrada de jovens futebolistas nos escalões de formação, é o facto de os empresários deterem, cada vez mais cedo, direitos desportivos sobre os mesmos, como também, conforme será do vosso conhecimento, ou pelo menos do conhecimento daqueles que frequentam o meio futebolístico, o tipo de relações que estes detêm com as pessoas que gerem os clubes.

Em muitos dos casos, os futebolistas de outras nacionalidades detêm documentos identificativos fraudulentos – é algo que ninguém assume, mas todos sabemos da sua existência. Nestes casos, os clubes e os seus técnicos têm a maior das culpas, pois têm conhecimento destas situações mas a importância da vitória sobrepõe-se a valores bem mais importantes.

Estes jogadores estrangeiros são, usualmente, apelidados de jogador ambiente, em que, segundo o termo e justificação dada por parte de quem os utiliza, os mesmos servem para ajudar a crescer os restantes futebolistas do plantel, ajudando-os a evoluir. Na minha opinião, esta é, apenas, a desculpa perfeita para justificar a ambição desmedida e eticamente reprovável que existe em vencer a todo o custo. Facilmente podemos contrariar esta pseudoteoria: Os jogadores que se revelarem mais evoluídos para o escalão em que se encontram, podem e devem ser promovidos a jogar por um escalão acima, aumentando assim o nível competitivo em que os mesmos se vão desenvolver. Assim, outra pergunta que me surge é: Quantos jogadores se perderam neste processo por terem sido relegados para segundo plano por um jogador que não pertence àquele escalão? Quantos foram levados a desistir?
           
          O nível competitivo dos nossos campeonatos não promove, de todo, o crescimento dos jovens futebolistas. Os calendários e a forma como os grandes clubes podem e recrutam os melhores futebolistas, é um factor importantíssimo no não desenvolvimento dos jovens jogadores. Explicando: o facto dos grandes clubes recrutarem, com tenra idade, os melhores futebolistas, acenando com melhores condições de treino e a possibilidade de uma carreira profissional num clube de top para os miúdos, faz com que seja criado um fosso enorme entre estas equipas e aquelas com quem competem, verificando-se resultados tão desnivelados que chega a ser traumático para os miúdos das equipas contrárias. Alguém acredita que uma vitória por 10 a 0 no campeonato nacional de juniores ou de 20 a zero num campeonato de infantis vai trazer alguma vantagem para o crescimento dos jovens futebolistas? Parece-me óbvio que não. Sou da opinião que até uma determinada idade, os jovens futebolistas não deviam poder representar clubes fora da sua área de residência – Claro está que para este tipo de medidas serem bem-sucedidas e as crianças encontrarem técnicos de qualidade e metodologias de treino adequadas era importante que a Federação e as Associações supervisionassem e criassem condições para que tal acontecesse, em vez de andarem a construir estádios, com custos elevadíssimos, para estarem vazios. Assim e havendo uma política transversal no que toca à formação desportiva dos jovens atletas, estes não encontrariam diferenças significativas de clube para clube.
           
       Um olhar atento e uma reflexão do que são os quadros competitivos permite aferir, considerando os jogos das fases finais dos respectivos campeonatos nacionais de Iniciados, Juvenis e Juniores (por norma só os jogadores de segundo ano estão nas equipas A do respectivo escalão), que ao longo de toda a sua formação desportiva estes jovens fizeram menos de 30 jogos realmente competitivos. Será que com 19 anos e depois de realizarem este percurso desportivo estão preparados para integrar os planteis principais dos respectivos clubes? Será que com estes quadros competitivos e com a falta de legislação não se perdem bons valores pelo caminho? Será que as equipas B podem dar resposta às necessidades dos jovens futebolistas e trazer mais jogadores nacionais às equipas da nossa Primeira Liga?
         
            Ficam, assim, algumas perguntas por responder, relativamente às quais deveremos reflectir, uma vez que, na minha opinião, todas elas terão implicação directa no futuro (ou na ausência deste) dos jogadores nacionais e da Selecção Portuguesa de Futebol.

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