Os
constrangimentos e carácter mutável num jogo colectivo, como é o caso de
futebol, são de tal forma tantos – bola, adversários, colegas, estratégia, leis
de jogo, etc…- que se torna cada vez mais impreterível que exista um melhor
recrutamento e desenvolvimento das ligações neuronais dos atletas de forma a
obtermos cada vez mais rápido e melhores respostas durante a competição.
Daniel Goleman refere que o cérebro humano não
se encontra totalmente formado à nascença, continua a moldar-se ao longo da
vida… porém o período de crescimento mais intenso é durante a infância. As
crianças nascem com mais neurónios no seu cérebro do que os que possuirão na
fase em que este se encontre completamente amadurecido. Durante os primeiros
anos de vida, o cérebro da criança é sujeito a um processo chamado “poda”, em
que as ligações neuronais menos utilizadas vão sendo eliminadas, ao mesmo tempo
que forma sinapses (ligações nervosas) mais fortes nas ligações neurais mais
utilizadas. Este processo de esculpir o cérebro é extremamente rápido (podem
formar-se ligações sinápticas numa questão de dias ou semanas), especialmente
durante a infância.
Na
infância é, então, o período óptimo para desenvolver as sinapses neuronais,
onde pode e deve ser aproveitado por pais, professores e treinadores para dotar
as crianças de um sem fim de estímulos de modo a terem um rede neuronal bem
vasta e evoluída. No que toca à prática desportiva, esta deve ser o mais
alargada possível, devendo as crianças praticar a maior variedade possível de
desportos. Aquando da iniciação da prática do futebol, entre os 5/6 anos, o
ensino deve incidir sobretudo numa grande variabilidade de estímulos do ponto
de vista coordenativo.
O
cérebro humano é extremamente plástico e adaptativo ao longo de toda a sua
vida, mas nada que se compare aos primeiros anos de vida, logo, é necessário
ter uma linha bem definida do que se pretende que o atleta aprenda em cada fase
de desenvolvimento, para se proceder a uma escolha acertada do tipo de estimulo
a que deve ser sujeito.
No
que toca ao futebol sénior, o tipo de informação/estimulo que se deve propor
aos jogadores deve estar intimamente ligada com o tipo de jogo que o treinador
pretende. Nesta fase da vida, a capacidade de aprendizagem e de desenvolvimento
de sinapses neuronais é menor do que na infância, logo se se pretende ver
materializado em campo uma forma de jogar, é imperativo que se treine
precisamente essa forma de jogar.
Atendendo
às características que o cérebro humano tem para receber e tratar informação,
parece-me a mim que uma boa maneira de potenciar esta capacidade de aprendizagem
é a de treinar o mais possível em especificidade.
O
treino em especificidade, vai permitir desenvolver e fortalecer sinapses
neuronais específicas de comportamentos tipo que o treinador pretende que a sua
equipa reproduza em campo.