quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Detecção de Talentos – Que Caminho Seguir?


O scouting e a detecção de novos talentos é cada vez mais, nos dias de hoje, uma área em crescendo no panorama futebolístico nacional. As áreas de observação e recrutamento de futebolistas e jovens futebolistas são cada vez mais vastas, chegando-nos atletas de todas as partes do globo.

A diversidade é, quanto a mim, um aspecto de valor incalculável. Termos jogadores provenientes dos quatro cantos do mundo é uma mais-valia, pois trazem consigo diferenças próprias e únicas dos seus locais de origem que enriquecem o nosso futebol. Porém, este recrutamento é feito cada vez mais cedo, a detecção de talentos é cada vez mais precoce. João Barnabé refere que: “Os medíocres atrasam o desenvolvimento dos jovens. O scouting está tão desenvolvido que os clubes compram o pintainho ainda antes deste sair do ovo. Normalmente fora do país”. Esta visão é partilhada por mim, pois creio que o recrutamento precoce, tirando as crianças da guarda dos pais, tirando-os da sua zona de conforto, poderá levar a que muitos destes se "percam".

No entanto e como gosto sempre de questionar o porquê das coisas, pergunto-me em que medida e em que quantidades devemos recrutar fora de portas? Não deveremos olhar primeiro para dentro na hora de recrutar (o futuro da selecção depende do recrutamento de jogadores nacionais)? Não haverá uma idade mínima para retirar as crianças da guarda dos pais?

Hoje os responsáveis pela detecção de talentos procuram ver características nos jovens atletas que se destaquem dos demais, nomeadamente a capacidade que estes têm de perceber o jogo (factor táctico), factores antropométricos, factores condicionais (Velocidade, força, resistência), factores e perfil psicológico, capacidade coordenativa e técnica, relacionamento com os colegas e treinadores. Como bem se compreenderá, estes são alguns aspectos importantes para que um determinado jogador chame a atenção de quem anda à procura de novos talentos. Depois, quem observa, tem de possuir a sensibilidade necessária para tentar visualizar se aquele atleta que se está a observar tem as qualidades necessárias para integrar a equipa para a qual este esta a fazer observação, se fará a diferença na mesma ou se será apenas mais um.

Neste contexto, creio que os jogadores que são observados devem ser alvo de várias observações, em diferentes contextos (jogos em casa e fora, em ambientes mais hostis e jogos de grande importância para a sua equipa), que quando chamados a prestar provas, estas devem ser de largos períodos e não apenas de um ou dois treinos, que mesmo que naquele momento não tenham condições de ficar devem continuar a ser observados e chamados a prestar provas periodicamente de modo a monitorizar-se e avaliar a sua evolução, que se deve valorizar uma ou outra característica e não colocar totalmente de parte o jovem jogador só pelo facto de naquele momento não se enquadrar dentro do padrão (veja-se o exemplo de Batistuta: este era uma criança com excesso de peso, Bielsa viu nele o grande goleador que mais tarde se revelaria).

Pergunto-me se não se deveria recrutar jogadores que se enquadrem no modelo de jogo, se não deveria existir um modelo de jogador que o clube pretende? Se não deveria haver por parte dos clubes um modelo de recrutamento bem definido e assente na cultura do clube? Normalmente recrutam-se os que mais se destacam na idade e no meio onde estão inseridos deixando para trás outros que pelo seu perfil se enquadrariam melhor no clube. O recrutamento deveria obedecer sempre a uma ideia de jogo e de jogador que o clube tem, que sejam jogadores capazes de atingir a equipa principal e não apenas obter vitórias nas fazes mais baixas do seu percurso desportivo. Para tal, o clube deve ter um modelo que vise formar jogadores para alimentar o plantel principal e não apenas ter bons resultados (vitórias) na base.

Estas são apenas algumas questões que proponho que sejam alvo de reflexão.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Físico VS Cognitivo


O futebol está, quanto a mim,  cada vez  a ficar mais igual, salvo as respectivas diferenças culturais existentes em cada futebol, está cada vez a ficar mais estandardizado.

As equipas dedicam cada vez mais tempo, das suas sessões de treino, a treinar os aspectos físicos e técnicos do jogo. Hoje, o treino físico já não encerra grandes segredos, pois à velocidade que a informação se propaga e num meio em que os seus técnicos dão tamanha importância ao treino destes aspectos, todos eles têm acesso a esta informação aplicando esta tipo “receita” nas suas sessões de treino.

Júlio Garganta refere que tem havido uma grande aposta no treino do Hardware e pouco ou nada do Software, esta maior incidência nos aspectos físicos e técnicos vai levar a que os jogo se torne mais idêntico.

A aposta no meu entender, deveria ir cada vez mais de encontro com os aspectos cognitivos, atencionais e decisionais do jogo. Durante um jogo de futebol os futebolistas têm que estar atentos a um sem fim de aspectos como bola, posição e acção dos colegas, aos adversários, baliza adversária e própria baliza, etc.. Devem decidir sobre pressão e em espaço físico e temporal, reduzido, logo o treino deve ir no sentido de melhorar estes aspectos, não descorando como é lógico aspectos físicos, técnicos, estratégico e claro a forma de jogar, mas antes criar exercícios que desenvolvam quer o “hardware quer o software” em simultâneo.

Implica portanto, que os técnicos tenham uma preparação anterior que lhes permita dominar estes novos aspectos do treino, que não matem os seu jogadores com treinos demasiado técnificados e sistematizado em unidades mais baixas (em idades mais jovens).

Por norma o treino que incide mais no físico e no técnico deve-se ao facto dos técnicos procurarem controlar ao máximo o que se passa no jogo e dando menos liberdade de decidir aos seus jogadores.

É imperativo que o treino assuma uma corrente do treinar diferente da actual, que se valorizem os aspectos cognitivos, atencionais e decisionais do jogo de modo a que tenhamos cada vez mais um futebol menos estandardizado.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Recuperação em Futebol




Nos últimos dias muito se tem falado se o Sporting está ou não apto para defrontar o Benfica. O motivo da divisão reside no facto de o Sporting, que teve jogo para a Liga Europa na Sexta-feira passada, voltaria a jogar contra o Benfica na Segunda-feira seguinte. Este é um tema que carrega em si alguma discórdia. O que me proponho, mais uma vez, não é trazer a público mais uma “receita” do que deve ser feito ou como deve ser feito, apenas pretendo partilhar uma visão de como se pode tratar esta questão tão importante para o treino de qualquer modalidade desportiva.
           
         No plano energético-funcional o futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo (Aroso, 2003; Rebelo, 1993; Reilly, 2005). No entanto, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994). A literatura aponta para as 48 horas como sendo o limite mínimo para se estar recuperado de um esforço com estas características. De um jogo de futebol resultam sempre dois tipos de fadiga, a central e a periférica: A fadiga central diz respeito à fadiga provocada no sistema nervoso central consequência do stress, dos elevados níveis de concentração que são exigidos ao longo do jogo e do constante processar de informação e consequentemente dar resposta à mesma; A fadiga periferia ou muscular, é aquela que resulta da elevada concentração dos substratos do metabolismo (Lactato, H+, Pi, ADP), provocando dor e condicionando o movimento.

            A literatura aponta para que a eficiência do treino de recuperação é tanto maior quanto mais próximo esteja do pós jogo, logo, quanto a mim, é um contra censo, o jogo se realizar no domingo e o treino de recuperação ser realizado na terça-feira à tarde (equipas profissionais ou semiprofissionais). A minha opinião vai no sentido de que este deve ser realizado logo na segunda-feira de manha e só depois os jogadores ficarem de folga (exemplo para um jogo por semana).

            No que toca ao treino de recuperação, o que eu proponho e defendo, é que este deve ser realizado o mais próximo do pós jogo, defendo que em vez das habituais corridinhas de baixa intensidade, se podem e devem criar exercícios e condições para valorizar esse treino no sentido de o aproximar ao modelo de jogo de cada treinador, o passe e o jogo posicional são aspectos transversais a todos os modelos de jogo independentemente da importância que cada treinador lhe possa atribuir, pois estes aspectos estão sempre presentes num jogo de futebol. Assim, quanto a mim, podemos treinar estes aspectos (entre outros) enquanto se recupera; Exemplo, num espaço reduzido, podemos efectuar exercícios de posse de bola ou jogos de posição, em superioridade numérica, em que os jogadores em posse percorrem pequenas distâncias para poder dar linhas de passe e receber a bola, os jogadores sem posse procuram efectuar um oposição passiva, sem entrar ao homem e sem qualquer tipo de agressividade, procurando apenas uma ocupação racional do espaço (os jogadores devem trocar de funções). Este tipo de exercícios de baixa intensidade visam, do ponto de vista físico, apenas aumentar o fluxo sanguíneo nos grandes grupos musculares de forma a ajudar à remoção dos substratos metabólicos, com a vantagem de podermos trabalhar questões importantes do modelo de jogo adoptado, assim como aliviar a fadiga central, pois este tipo de exercícios são bem mais atractivos para os jogadores que andar a correr à volta do campo. O treino de recuperação deve contemplar os alongamentos, quer estáticos quer dinâmicos, massagens, banhos quentes e frios. Este tipo de "recuperação" pode também ser importante, tanto mais na medida em que os jogadores acreditarem na validade dos mesmos.

        Vitor Frade defende que não há apenas uma forma de jogar e de treinar, logo não há nem pode haver apenas uma forma de recuperar! Na minha opinião, a forma como se recupera tem que estar intimamente ligada à forma como se joga e treina. As equipas de Top Europeu, caracterizam o seu jogo como sendo de períodos de intensidade máxima e como o seu treino assenta na periodização táctica e na especificidade, este tipo de acções são treinadas,logo, há um recrutamento massivo das unidades motoras e neurais, que são sempre as mesmas porque a necessidade de aperfeiçoar aqueles comportamentos assim o exige.

       Assim, é necessário recuperar dentro do próprio treino, logo a periodização dos mesmos deve contemplar nas suas unidades a recuperação durante exercício e entre exercícios.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Os Riscos da Cópia



A construção de uma forma de jogar é algo que requer, por parte de todos os intervenientes neste fenómeno, uma grande preparação e um conhecimento profundo dos vários domínios que estão associados ao treino.

É frequente verificar que os modelos que mais sucesso obtêm são copiados pelas restantes equipas, recordo-me, no primeiro ano em que o Futebol Clube do Porto, treinado por José Mourinho, obteve o título de campeão nacional e vencedor da Taça UEFA, jogava num sistema de 4-3-3 e as restantes equipas apresentavam o 4-4-2 como sistema táctico mais utilizado. O sucesso alcançado por José Mourinho foi de tal ordem impressionante para quem tinha acabado de chegar a um clube de top Nacional, que na época seguinte, grande parte das equipas da Primeira Liga tinham adoptado o seu sistema táctico.

A história mostra que após Mourinho, para além de André Villas Boas, ninguém teve tamanho sucesso numa só época desportiva em Portugal, mesmo após tantos procurarem copiar o sistema táctico vencedor de José Mourinho.

Actualmente, e mais uma vez porque foi alvo de um sucesso sem precedentes, o Barcelona de Pep Guardiola é o modelo que todos desejam, mas sem sucesso copiar.

A minha reflexão hoje vai precisamente para este fenómeno, o de se procurar copiar o que com outros teve sucesso. Acredito de forma convicta que se deve aprender com quem teve êxito. Porém, também acredito que não se podem repetir êxitos com a mesma fórmula em contextos diferentes, os modelos que tem sucesso devem, quanto a mim, ser alvo de estudo, olhar para eles com um olhar critico, ver de que forma é que estes podem ter sucesso num ambiente totalmente diferente, com interpretes totalmente diferentes, se devem ou não ser alvo de alterações, de adaptações. Cada homem, cada treinador, é único, um ser impar, o seu olhar, a sua acção sobre um determinado fenómeno será sempre única, irreproduzível por mais alguém! Logo, quanto a mim, não faz sentido andar a tentar copiar na íntegra o que com outros foi um êxito.

Mourinho jamais seria Mourinho se procurasse imitar os seus mentores! Ele é o treinador que todos conhecemos porque sempre teve a capacidade de não copiar na, íntegra, as fórmulas que bem conhecia terem sucesso. O seu espirito critico e a sua capacidade de absorver e tratar informação, associadas a tantas outras qualidades que fazem dele o líder de excelência que hoje.

Guardiola, um homem sábio e profundo conhecedor do seu clube do coração, também não se limitou a copiar o que os seus antecessores fizeram no clube... inovou, deu o seu toque tão único e irrepetível, pois Guardiola há só um, só ele consegue ver através dos seus olhos.

Johan Cruyff pintou a capela, cabe a cada treinador do Barça a ir restaurando e melhorando (Guardiola).

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Que Futuro Para o Futebolista Português?


Sou um apreciador, confesso, das qualidades do futebolista Português, sendo o seu virtuosismo técnico reconhecido por todo o mundo - por vezes, mais até que dentro de portas. Em “A Origem do Futebol Espetáculo” referi a importância que o futebol de rua teve na formação futebolística e humana de jogadores como Luís Figo, Rui Costa, João Pinto, entre outros, todos pertencentes à denominada “Geração de Ouro” do futebol Português e, mais recentemente, em Cristiano Ronaldo. Conforme se recordarão, no referido artigo fazia, igualmente, referência ao facto dos atletas passarem vastas horas na rua a jogar, nos mais diferentes contextos, o que os dotaria de diferentes habilidades motoras.

Os estilos de vida promovidos por uma sociedade mais individualista, consumidora de bens supérfluos para o desenvolvimento da criança e com interesses cada vez mais distantes dos valores do desporto, constituem factores que têm contribuído para a diminuição do número de praticantes, o que terá como consequência a diminuição de uma possível base de recrutamento de potenciais talentos. – Conforme será do conhecimento de todos os agentes desportivos, que uma base de recrutamento alargada, aumentará as possibilidades de recrutar talentos.
          
      Cada vez mais, os seleccionadores dos vários escalões nacionais vão debater-se com a problemática de seleccionar jogadores para representar as cores nacionais – bastará olharmos atentamente para o exemplo da Selecção A, em que já tivemos de recorrer, por diversas vezes, a futebolistas naturalizados, precisamente pela falta de matéria humana capaz de representar a selecção nacional ao nível que todos esperamos.
          
        A falta de legislação adequada quanto à entrada de jogadores estrangeiros é um dos maiores problemas com que nos debatemos actualmente. Não quero, claro está, com isto dizer que sou contra a entrada de futebolistas provenientes de outras paragens nos nossos campeonatos. Defendo, contudo, que devem existir critérios de entrada mais selectivos, pois o elevado número de futebolistas estrangeiros que estão no nosso campeonato e que não acrescentam “nada de novo” ao mesmo, é demasiado elevado, retirando espaço de afirmação aos jovens futebolistas nacionais. É habitual ouvir-se, nos mais variados meios de comunicação e locais de debate futebolístico, comentários relativos a esta temática. Porém, no que toca à operacionalização de alguma medida concreta, pouco ou nada tem sido feito.

Esta questão é ainda mais preocupante quando se estende ao futebol formação, em que vemos um elevado número de estrangeiros nos planteis dos clubes nacionais. Recordo-me de ver uma equipa de juniores, de um clube “grande” do nosso futebol, formada por 19 estrangeiros. As questões imediatas que se colocam são: Esses jogadores tinham mesmo qualidade para estar nesse grupo? Se tinham, que é feito dos mesmos? A sociedade Portuguesa e profícua em situações em que ninguém é responsabilizado por erros de má gestão ou pela sua incompetência. Esta será, apenas, mais uma.

           Outra questão que contribui, em muito, para esta entrada de jovens futebolistas nos escalões de formação, é o facto de os empresários deterem, cada vez mais cedo, direitos desportivos sobre os mesmos, como também, conforme será do vosso conhecimento, ou pelo menos do conhecimento daqueles que frequentam o meio futebolístico, o tipo de relações que estes detêm com as pessoas que gerem os clubes.

Em muitos dos casos, os futebolistas de outras nacionalidades detêm documentos identificativos fraudulentos – é algo que ninguém assume, mas todos sabemos da sua existência. Nestes casos, os clubes e os seus técnicos têm a maior das culpas, pois têm conhecimento destas situações mas a importância da vitória sobrepõe-se a valores bem mais importantes.

Estes jogadores estrangeiros são, usualmente, apelidados de jogador ambiente, em que, segundo o termo e justificação dada por parte de quem os utiliza, os mesmos servem para ajudar a crescer os restantes futebolistas do plantel, ajudando-os a evoluir. Na minha opinião, esta é, apenas, a desculpa perfeita para justificar a ambição desmedida e eticamente reprovável que existe em vencer a todo o custo. Facilmente podemos contrariar esta pseudoteoria: Os jogadores que se revelarem mais evoluídos para o escalão em que se encontram, podem e devem ser promovidos a jogar por um escalão acima, aumentando assim o nível competitivo em que os mesmos se vão desenvolver. Assim, outra pergunta que me surge é: Quantos jogadores se perderam neste processo por terem sido relegados para segundo plano por um jogador que não pertence àquele escalão? Quantos foram levados a desistir?
           
          O nível competitivo dos nossos campeonatos não promove, de todo, o crescimento dos jovens futebolistas. Os calendários e a forma como os grandes clubes podem e recrutam os melhores futebolistas, é um factor importantíssimo no não desenvolvimento dos jovens jogadores. Explicando: o facto dos grandes clubes recrutarem, com tenra idade, os melhores futebolistas, acenando com melhores condições de treino e a possibilidade de uma carreira profissional num clube de top para os miúdos, faz com que seja criado um fosso enorme entre estas equipas e aquelas com quem competem, verificando-se resultados tão desnivelados que chega a ser traumático para os miúdos das equipas contrárias. Alguém acredita que uma vitória por 10 a 0 no campeonato nacional de juniores ou de 20 a zero num campeonato de infantis vai trazer alguma vantagem para o crescimento dos jovens futebolistas? Parece-me óbvio que não. Sou da opinião que até uma determinada idade, os jovens futebolistas não deviam poder representar clubes fora da sua área de residência – Claro está que para este tipo de medidas serem bem-sucedidas e as crianças encontrarem técnicos de qualidade e metodologias de treino adequadas era importante que a Federação e as Associações supervisionassem e criassem condições para que tal acontecesse, em vez de andarem a construir estádios, com custos elevadíssimos, para estarem vazios. Assim e havendo uma política transversal no que toca à formação desportiva dos jovens atletas, estes não encontrariam diferenças significativas de clube para clube.
           
       Um olhar atento e uma reflexão do que são os quadros competitivos permite aferir, considerando os jogos das fases finais dos respectivos campeonatos nacionais de Iniciados, Juvenis e Juniores (por norma só os jogadores de segundo ano estão nas equipas A do respectivo escalão), que ao longo de toda a sua formação desportiva estes jovens fizeram menos de 30 jogos realmente competitivos. Será que com 19 anos e depois de realizarem este percurso desportivo estão preparados para integrar os planteis principais dos respectivos clubes? Será que com estes quadros competitivos e com a falta de legislação não se perdem bons valores pelo caminho? Será que as equipas B podem dar resposta às necessidades dos jovens futebolistas e trazer mais jogadores nacionais às equipas da nossa Primeira Liga?
         
            Ficam, assim, algumas perguntas por responder, relativamente às quais deveremos reflectir, uma vez que, na minha opinião, todas elas terão implicação directa no futuro (ou na ausência deste) dos jogadores nacionais e da Selecção Portuguesa de Futebol.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Proposta de Exercício para Melhorar o 1x1



Em artigos que escrevi anteriormente denotei sempre, a importância do trabalho da técnica individual e da importância que estas têm na resolução das situações 1x1 e consequentemente na resolução de jogos de futebol. O exercício que apresento no vídeo abaixo (vídeo de Luís Vilar), é um excelente exemplo de como se podem trabalhar as situações 1x1 em jovens futebolistas.  



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Desmistificar o Treino em Especificidade



“Especificidade” é, quanto a mim, uma palavra polissémica pois, como o próprio nome indica, é susceptível de ter vários significados – sendo que, num treino de futebol, a “especificidade” também poderá ser encarada de variadas formas.

À luz de uma concepção de treino mais convencional (doutrina Matveiana), em que o trabalho físico assume um papel central na preparação, principalmente em períodos prévios ao início da época desportiva, mais conhecida por Pré-época, a “especificidade” é encarada, após uma caracterização das exigências do jogo nos aspectos físicos, como um treinar desses aspectos de forma isolada.

Treinar aspectos de ordem técnica (como, por exemplo, o remate, o passe, a recepção, o cruzamentos, entre outros) é visto, por vezes, como sendo uma forma específica e isolada de garantir a adaptação.

Existe, também, uma corrente opinativa (por parte de quem não domina este conceito de “especificidade”), que defende que o simples facto de se estar a treinar com bola significa que se está a treinar em “especificidade” – quando, na realidade, o que acontece, muitas vezes, é que se esta a treinar de forma integrada, ou seja, a bola entra efectivamente nos exercícios mas única e simplesmente para mascarar o verdadeiro sentido dos mesmos, que é puramente físico. Efectivamente, este tipo de realidade tem algo de mais específico ou que se aproxime ao jogo, que é a bola. Porém, este não é um treinar em “especificidade”.

Não me parece que o simples facto de treinar com bola, treinar em espaços reduzidos ou mesmo numa situação em que a bola assuma um papel central do treino, seja treina verdadeiramente em “especificidade”. À luz de uma concepção do treinar sobre uma periodização táctica (conceito de modelização sistémica), treinar em “especificidade” esta intimamente relacionado com o Modelo de Jogo que cada treinador preconiza para a sua equipa. Oliveira (1991) refere que treinar é criar ou trazer para o treino situações táctico-técnicas e táctico-individuais que o jogo requisita, envolvendo os jogadores e todas as suas capacidades, através do modelo de jogo e respectivos princípios adaptados. Todos os exercícios devem ser elaborados de acordo com o modelo de jogo adaptado. Assim, todas as componentes físicas, psicológicas, técnicas e estratégicas devem ser dependentes da componente táctica, sendo que a melhoria das mesmas está intimamente ligada com o treinar a “especificidade” do jogar.

Para responder ao modelo de jogo o treino deve ser reduzido a um espaço similar, o campo, devendo os exercícios fazer parte do mesmo. Quando me refiro a que “devem ser parte”, pretende dizer que se deve reduzir mas não empobrecer. O treino em “especificidade”, à luz desta concepção de treino em periodização táctica, como já referimos anteriormente, engloba todas as capacidades do atleta (quer físicas quer técnicas quer psicológicas) em simultâneo, logo é imperativo que os treinadores olhem para estes aspectos com a importância que eles efectivamente têm e que o seu objectivo seja no sentido de criarem exercícios que os contemplem a todos.

Contudo, por vezes, isso não acontece, visto que os técnicos não reflectem o suficiente sobre o seu modelo de jogo e consequentemente a escolha dos exercícios de treino que visam a operacionalização da forma de jogar, não é a mais acertada. O facto de não haver uma grande preocupação com as acções táctico-técnicas individuais dos seus jogadores é exemplo disso mesmo. Um exemplo prático: Uma equipa tem definido no seu modelo de jogo que o seu lateral esquerdo não sobe muito no terreno de jogo, e que sempre que receber a bola deve jogar directamente no Ponta de Lança. Ora, esta situação é treinada no contexto táctico e estratégico da equipa, mas será que esta questão é convenientemente treinada no aspecto táctico-técnico do jogador de forma individual? O que deve acontecer, é que nos exercícios criados pelo treinador esta questão deve estar implícita, devem surgir exercícios em que este jogador nesta acção do jogo, deve receber a bola preferencialmente no pé e não em movimento. Situação diferente será ter um lateral que suba no terreno, pois ai devem ser criados exercícios em que este receba a bola no espaço e em profundidade para depois cruzar ou tomar a decisão que o jogo se lhe exija.

Durante o período preparatório surgem, com muita frequência, lesões músculo-esqueléticas, rupturas musculares e entorses. Este facto deve-se, também, à falta de “especificidade” do treino durante este período pois, ainda hoje, se assiste a treinadores que acreditam que durante o período preparatório se devem ganhar bases do ponto de vista físico para toda a época desportiva, concentrando o seu trabalho em grandes volumes de carga física. Durante o período em que o trabalho é eminentemente físico, toda a estrutura músculo-esquelética dos jogadores sofre adaptações aos movimentos realizados, a forma como a contracção muscular é feita nos exercícios analíticos, realizados neste período, é bem diferente daquela que é feita quando a bola entra nos referidos exercícios. Assim, o tipo de estímulo e resposta exigida aos jogadores é bem diferente daquela a que estavam habituados, logo surgem as lesões.

 Quanto a mim o treino em “especificidade” só o é verdadeiramente quando está subjugado na íntegra ao modelo de jogo. Só treinando os comportamentos que pretendemos que sejam aplicados é que os mesmo irão surgir durante o jogo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Seduzir Para Liderar



Desde os primórdios dos tempos que os grupos sempre sentiram necessidade de que um dos seus elementos tomasse a dianteira,  indicasse o caminho, que fosse o guia. Este papel era, e é, desempenhado por alguém com o mais variado dos estilos, dependendo, desde logo, da sociedade em questão, do tempo em que existiu e dos valores por que se rege.

O guia ou chefe do grupo tanto podia ser homem como mulher. Invariavelmente, seria o mais forte do grupo, o mais ágil, o mais inteligente e poderia mesmo ser o mais idoso do grupo.

O guia, por vezes, era encontrado de uma forma "natural", ou seja, tornava-se líder aquele  elemento do grupo que resolvia, com mais frequência, os problemas com o grupo se deparava no seu dia-a-dia.

A força foi, desde sempre, uma alternativa às opções acima mencionadas. A conquista de outros grupos e terras pela força foi uma constante ao longo da história da humanidade.

A história revela-nos, porém, que esta forma de conquista nunca se revelou duradoura, pois os grandes impérios e os grandes exércitos foram sempre construídos com base em  ideais e valores que, não sendo por vezes os mais correctos, eram aqueles que os líderes indicavam com o sendo.

Lideres como Martin Luther King, Napoleão Bonaparte, Mahadma Gandhi ou Adolf Hitler têm em comum uma enorme capacidade de congregar à sua volta todos os que os rodeavam... quer fosse pela promessa de um futuro melhor para os seus, pelo exemplo que estes davam ou pela maneira como inspiravam os seus seguidores.

A literatura divide a liderança em vários estilos. Estes são agrupados em função do tipo de recursos ou estilo que o seu líder usa para exercer a sua liderança, e podem ser:

Liderança autocrática: também conhecida como liderança autoritária, aqui o líder toma decisões individuais sem considerar o que os seu liderados pensam, ou seja, ele define o que se deve fazer e quem deve fazer.

Liderança democrática: este tipo de liderança permite a participação por parte dos liderados no processo de decisão.

Liderança Liberal: aqui o líder permite que os seus liderados executem as acções de forma autónoma (indiciando ser um grupo maduro e que não precisava de supervisão constante).

Liderança Paternalista: aqui os líderes têm uma relação com os seus liderados de paternidade. Pode ser confortável para evitar conflitos, porém este tipo de liderança não é adequado numa relação profissional.

No desporto, tal como em todos os outros movimentos sociais, existe a necessidade de liderar e ser liderado. O futebol,  sendo o desporto com maior expressão social a nível mundial, também tem sido alvo de estudo e reflexão no que aos seus líderes e processos de liderança diz respeito.

Mourinho e Guardiola são, actualmente, no mundo futebolísticos os lideres mais mediáticos e apesar de para a imprensa terem uma imagem bem diferente um do outro, na realidade, no que toca à liderança que estes exercem no seio dos seus grupos, não são assim tão diferentes. Ambos são altamente mediáticos, ambos têm uma relação de grande proximidade com os seus liderados, não tendo receio de se colocarem ao nível dos mesmo, coisa que a maioria dos treinadores não faz com os seus atletas. A honestidade para com os seus atletas é, também, uma semelhança entre ambos,  os seus atletas sabem o que os seus treinadores esperam deles e a prova disso é a relação que estes têm com os seus ex-atletas e com as instituições para as quais trabalharam anteriormente.

A minha visão de liderança é fruto do estudo, da reflexão e das experiências por mim vivenciadas  Acredito, firmemente, que liderar é, acima de tudo, um processo de "sedução". Os lideres têm de "seduzir" os seus liderados para o caminho que estes apresentam como sendo o adequado. Para que tal aconteça, o líder tem de possuir uma boa oratória, pois o seu discurso tem que ser fluido e coerente, tem que dar o exemplo sendo o primeiro a seguir o caminho indicado por si mesmo. Um líder não deve, em momento algum, tratar todos de forma igual mas sim com justiça, pois não faz sentido aplicar o mesmo castigo a um atleta que prevarica uma vez e ao que esta constantemente a fazê-lo.

Os jogadores devem acreditar convictamente no trabalho que o seu líder lhes apresenta e na maneira como devem executar a sua missão. Sim, porque o espírito que deve existir no seio do grupo é que existe, efectivamente, uma missão a atingir e essa missão (títulos, sucesso, etc…) será tanto mais facilmente atingível quanto maior for a capacidade do líder em "seduzir" todos os elementos do seu grupo para este espírito de equipa e de missão.

Por outro lado, não acredito em lideranças autoritárias no desporto. Os lideres que guiam única e simplesmente pela posição que detêm no seio do grupo, não são dignos de serem considerados líderes e devem ser antes apelidados de chefes, uma vez que, ser chefe é algo bem diferente de ser líder. O mandar fazer sem que os seu jogadores percebam o porque não é uma característica de um líder na verdadeira acepção da palavra, pois os grupos e as pessoas não acreditam no “faz isto ou aquilo porque sou eu quem manda”, fazem-no porque aquele que dá tal ordem tem, efectivamente, uma posição superior na hierarquia. Porém, o seu rendimento jamais será tão produtivo ou rentável como se este acreditasse, verdadeiramente, no que está a fazer, ou seja, foi mandado e não "seduzido" a fazê-lo.

O processo de liderar é algo de extremamente complexo e acredito, convictamente, que a melhor maneira de fazê-lo é o líder "seduzir" os seus liderados, ou seja, atrai-los para as suas ideias e fazê-los acreditar que se o fizerem o seu futuro será bem melhor. A promessa de algo melhor para os seus seguidores deve estar sempre associada à missão a cumprir.
Lideres "seduzam".

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Técnica Individual - Proposta de Trabalho

É minha convicção que o futebol, como qualquer jogo de equipa, carece de organização, sendo necessário que os elementos da equipa tenham o mesmo pensamento perante as várias situações com que se venham a deparar ao longo do jogo.

No entanto, o que se verifica em alguns jogos é que as equipas detêm um enorme conhecimento reciproco e estão de tal forma organizadas que, por vezes, para o espectador comum, perde algum interesse, perde a imprevisibilidade que o deveria caracterizar, podendo mesmo tornar-se um espectáculo aborrecido.

É aqui que os jogadores mais dotados do ponto de vista técnico e de habilidades motoras assumem um papel de relevo, pois são estes que, através das suas qualidades, desbloqueiam o jogo, alterando o resultado do marcador e o rumo dos acontecimentos. Contudo, o que acontece, com frequência, é que enquanto o marcador não sofre alterações as equipas tendem a não assumir o controlo do jogo. Porém, quando o marcador se altera, a equipa em desvantagem começa a arriscar mais e, como consequência disso, o jogo ganha outra dinâmica e outro interesse para o espectador.

Conforme referi em artigos anteriores – especialmente em: “A importância do Ensino da Técnica Individual” – é de extrema relevância o ensino de técnicas aos jogadores, quer sejam elas de caris ofensivo quer defensivo. A proposta de trabalho que apresento é a de optimizar algumas capacidades técnicas em contexto de jogo.

De uma forma prática: A figura abaixo apresenta três exercícios em que, consoante a manipulação do número de balizas e do guarda-redes, iremos obter resultados diferentes, ou seja, a utilização de um ou outro exercício revelará que existem diferenças estatisticamente significativas ao nível dos gestos técnicos observados.

No primeiro exercício, jogam duas equipas GR ­+ 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre uma baliza; No segundo exercício jogam duas equipas GR­ + 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre duas balizas; No terceiro exercício, jogam 6x6, com ataque à zona alvo, ou seja, para pontuar, os jogadores têm que passar com a bola controlada sobre a linha de fundo.







Como podemos verificar no quadro acima, existem diferenças no número de passes certos, sendo observável, também, que onde esta acção ocorre com mais frequência é no JR3 (6x6 ataque a zona alvo). Assim, creio que este será um bom exercício para melhorar a técnica de passe em contexto de jogo.

Nas acções 1x1 verifica-se que existem diferenças estatisticamente significativas: Ao analisarmos o quadro acima é manifesta a existência de mais acções de 1x1 nos JR2 (GR­ + 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre duas balizas) e no JR3 (6x6 ataque a zona alvo), com uma pequena diferença entre ambos, sendo no JR2 que se revelam existir mais confrontos nas acções 1x1. Assim, estes dois exercícios poderão ser um excelente meio para melhorar este tipo de acções, tão importantes no desequilíbrio do jogo.

No número de intercepções existem, também, diferenças estatisticamente significativas: O exercício que revela ser mais eficaz para trabalhar este tipo de acções técnicas de cariz defensivo é o JR1 (GR ­+ 6x6 + GR ataque sobre uma baliza), pois é neste exercício que o número de intercepções ocorre com mais frequência.

Finalmente, e apesar de não existirem diferenças estatisticamente significativas, o JR2 revela ser um bom exercício para melhorar o passe longo, pois é neste exercício que existe um maior número desta acção.



Nota: Este estudo foi realizado no âmbito da minha tese de Mestrado, cujo título é “Jogos Reduzidos de Futebol - Estudo do comportamento técnico-táctico em jogadores Sub-15, bem como respectiva variação da frequência cardíaca e percepção subjectiva do esforço, em situações de jogo de 6 x 6 com objectivos tácticos diferenciados.”, datada de Julho de 2012.