sexta-feira, 5 de abril de 2013

Velhos Mas Nem Tanto



Em várias culturas a idade mais avançada é uma questão de estatuto e de respeito pela restante comunidade, pois os anos que carregam a mais são sinónimo de experiência e sabedoria.

Na cultura futebolística, pelo menos na nossa, a idade avançada é vista na maior parte das vezes como uma situação de pouca utilidade para a equipa e para o treinador, sendo comum ouvir-se que determinado jogador com 30 anos já é velho e que não tem valor de mercado. Esta é uma afirmação, quanto a mim, típica de um país que está habituado a rentabilizar e exportar jogadores, onde com o avançar da idade as possibilidades de os rentabilizar com uma venda vão diminuindo.

Porém, em alguns países como em Itália, os jogadores tem uma carreira bem mais longa que na maioria dos restantes países e muito tem a ver com a forma como os clubes cuidam dos seus jogadores e o investimento que fazem em criar condições para rentabilizar os seus activos. Aqui, a rentabilização não está relacionada com um futuro valor de venda, mas sim em ter os seus futebolistas como aptos e sem lesões para jogar ao mais alto nível durante o mais tempo possível.

O custo anual do Milan LAb é de 2,5 milhões de euros por ano, o valor que normalmente custa um jogador mediano a uma equipa Portuguesa. Ora, se compararmos este valor com os resultados obtidos – nomeadamente na potencialização das condições físicas, psicológicas, de tratamento e prevenção de lesões nos seus atletas, conseguindo consequentemente aumentar a duração de um activo em que o clube investiu – é manifestamente pouco para os resultados obtidos.

A partir dos trinta, os futebolistas vão perdendo algumas capacidades físicas mas vão ganhando outras (perde-se velocidade e força mas ganha-se resistência). A prova disso mesmo esta no facto de que os melhores atletas de provas de fundo são indivíduos com mais de 30 anos - Paula Radclife uma das maiores maratonistas de sempre, hoje com 40 anos ou Derartu Tulu, atleta Etíope, que venceu a maratona de Nova Iorque pela primeira vez com 37 anos, Luís Henrique ou Ivan Helguera, ex futebolistas que após “pendurarem as botas” passaram a dedicar-se a correr ultra maratonas.

A idade permite aos futebolistas terem um maior conhecimento do jogo - há estudos que referem que para atingir o expertise são necessárias 10 mil horas de treino - logo quanto mais conhecedores do jogo melhores decisões, naturalmente, vão tomar durante o jogo. A questão reside em perceber como deve treinar e repousar um futebolista com mais idade para conservar as suas capacidades físicas o mais intactas possível.
Com o avançar da idade, as fibras musculares de contracção rápida (responsáveis pela velocidade e pela força) sofrem alterações de modo a tornarem-se em fibras de contracção lenta. Este aspecto associado a questões relacionadas com o envelhecimento de um modo geral ao nível das funções hormonais e cardiovasculares torna os jogadores mais lentos. Embora não se possa combater o envelhecimento, pode-se retardar a perda de funções recorrendo a treino específico para o efeito, no que toca à perda de fibras musculares rápidas, pode-se realizar um trabalho complementar ao treino, recorrendo a aparelhos próprios para o efeito (elásticos, pesos, maquinas de musculação, etc…) desde que se respeitem as cadências e períodos de repouso recomendados pela bibliografia especializada.
          
           É claro que os cuidados não se podem ter só quando chega o momento. Ryan Giggs, Ambrosini, Nesta, Pirlo, Costacurta, Maldini, entre outros, são e foram conhecidos pelo seu profissionalismo dentro e fora de campo, a maneira rigorosa como treinam/treinavam e descansam/vam ao longo das suas carreiras, reflectiu-se na consistência e bom desempenho que demonstravam e demonstram durante o jogo mesmo na fase terminal das suas carreiras.
           
        Cada jogador é um ser único e irreproduzível, logo os cuidados (treino, nutrição, repouso) a ter com cada um deles devem também ir de encontro às necessidades de cada um.
           
      Os jogadores mais velhos são também os mais experientes, cabe a cada treinador e à estrutura de todo o clube rentabilizar estes activos, que apesar do ponto de vista financeiro já não serem tão apetecíveis, não deixam de ser um valor importante para o clube, pois os clubes vivem de vitórias dentro de campo e a experiência destes atletas pode ser importante na conquista das mesmas. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Modelação Táctica ou Sistematização?


O futebol, como qualquer modalidade desportiva colectiva, na sua manifestação apresenta padrões comuns que são próprios da modalidade, mas também pode apresentar padrões de jogo individuais e únicos.

Os padrões de jogo individuais de cada equipa dizem respeito ao tipo de treino a que esta é sujeita, treino este que, em princípio, reflectirá a imagem do seu treinador e as ideias de jogo que possui.

O padrão de jogo que cada equipa apresenta pode ser adquirido através da sistematização (repetição) de conteúdos de treino ou da modelação táctica.

A sistematização, como já escrevi num artigo anterior, perde consistência quanto mais elevado for o nível em que as equipas competem pois o recurso a meios de observação quer por vídeo quer no local, assim como o adequado tratamento da mesma informação com recurso a programas informáticos oferecem-nos a possibilidade de dissecar, ao máximo, os padrões de jogo da equipa que vamos enfrentar, podendo mesmo antecipar as suas acções.

A modelação táctica, é um conceito que como o próprio nome indica visa modelar. O objectivo é, então, modelar princípios que sirvam de guias ou orientações para os jogadores procurarem soluções em respeito por esses mesmos princípios. A modelação táctica é por isso importante para que a equipa possa exprimir determinados comportamentos ou tendências que vão de encontro ao que o treinador quer ver materializado durante os vários momentos do jogo.

O conceito de modelação faz sentido nos princípios, pois não se podem modelar os fins, modelamos os princípios e aos fins pode-se chegar de várias formas.

Para Júlio Garganta, treinar é modelar, sendo esta uma questão central, pois é o treino que faz o jogo que por sua vez justifica o treino.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A Tomada de Decisão em Futebol



O desporto, em particular o de alto rendimento, tem sido alvo de vários estudos nas mais diversas áreas, com o objectivo de melhorar o desempenho dos atletas. A curiosidade tipicamente humana na busca do saber ou por vezes até os interesses económico-financeiros subjacentes levam a que se invista em formas de melhorar a prestação desportiva dos atletas.

Actualmente, é imperativo para o treino de qualquer modalidade desportiva colectiva, possuir técnicos que dominem uma panóplia de conteúdos e ciências ou então recrutar pessoas com diferentes valências para as estruturas, equipa técnicas e/ou clube.

A tomada de decisão tem sido um dos temas alvo de estudo e de reconhecida importância como instrumento potenciador do rendimento dos praticantes das mais diversas modalidades desportivas.

O futebol, pelo elevado número de elementos por equipa, oferece mais opções de decisão que modalidades desportivas colectivas menos numerosas. Como jogo dinâmico que é, sempre em constante mudança durante todo o tempo que dura a partida, os seus participantes deparam-se constantemente com situações que foram previstas mas também muitas imprevistas às quais tem que dar resposta imediata. Posto isto, parece-me que faz todo o sentido investir num treino que ajude a melhorar as decisões tomadas pelos jogadores.

A qualidade da resposta perante a situação com que um jogador se depara, assim como a rapidez com que o faz, depende do conhecimento que este detém do jogo, sendo que este conhecimento advém do número de anos de prática que cada jogador tem.

Dentro do jogo de futebol existem varias formas de o jogar (aquilo a que, normalmente, se chama de modelo de jogo), sendo que o rendimento do jogador será tanto maior quanto melhor for o conjunto de boas decisões que este tome durante uma partida. As decisões serão de melhor qualidade quanto maior for o conhecimento que o jogador tiver sobre a forma de jogar da sua equipa, ou seja, quanto maior for o seu conhecimento do modelo de jogo.

Uma partida de futebol, é uma batalha constante entre duas equipas que procuram concertar esforços para manter a sua organização, ao mesmo tempo que procuram destabilizar a equipa adversária, quer por acções colectivas quer por acções individuais no sentido de conseguir criar situações potenciadoras de finalização e consequentemente ganhar a partida.

O objectivo do treino deve, assim, visar também o melhoramento da capacidade de tomada de decisão dos jogadores. Como vimos anteriormente, o conhecimento da forma de jogar da equipa ajuda o jogador a tomar melhores decisões, mas também ajudará ter um bom conhecimento quer da forma de jogar dos seus companheiros de equipa, quer dos elementos da equipa adversária.

Quando um jogador tem de fazer um passe para um colega de equipa, deve considerar múltiplos factores: se joga no pé ou no espaço, se optar pelo espaço deve ter a perfeita noção de a que distância deve colocar a bola do colega para quem é dirigido o passe, pois se for muito para a frente, este pode não ser rápido o suficiente para receber e ficar na posse da bola.

As situações de um contra um são frequentes durante o jogo e, mais uma vez, o jogador portador da bola deve perceber qual a acção a tomar: se enfrentar o adversário e ariscar perder a bola durante o confronto ou optar por garantir a posse de bola e fazer um passe a um colega que dê mais garantias de a manter. Se optar por enfrentar o adversário existe informação que este consegue recolher no momento para o ajudar a decidir melhor, como por exemplo: ver o posicionamento e orientação dos pés, se o adversário estiver orientado para a esquerda, fazer a finta para o lado contrário pode dar alguns milésimos de segundos de vantagem, suficientes para que a acção possa ser bem-sucedida. Informações como pé dominante e velocidade do seu opositor podem ser também importantes na decisão que o jogador possa tomar.

Por vezes um jogador está perante uma situação em que sabe perfeitamente o que fazer para que seja bem-sucedido, porém a sua má condição física ou cansado não lhe dariam boas hipóteses de que obtivesse sucesso, este conhecimento do seu estado físico vai permitir-lhe optar por uma acção diferente, correndo menos riscos.

Pode-se afirmar que a tomada de decisão e o jogo de futebol têm uma relação umbilical e indissociável. Esta relação deve ser potenciada através de processos do treino. As tarefas de treino propostas devem ser ecológicas, ou seja, deve existir uma estreita relação entre as tarefas propostas pelo treinador e o jogo/competição.

Os melhores níveis de desempenho no futebol são alcançados pelos jogadores peritos, que são aqueles que têm mais tempo de prática da modalidade e em que muitas vezes conseguem antecipar uma determinada acção em vez de esperarem e reagirem à mesma, isto dá-lhes vantagem perante os menos peritos que normalmente são também mais novos.

Treinar sob formas jogadas e reduzidas pode ser uma boa alternativa metodológica para potenciar o aparecimento de jogadores peritos, pois pelo facto de estarem a treinar desta forma vai obrigar a que os jogadores sejam sujeitos a tomar decisões semelhantes às que se deparam durante uma partida de futebol e com muita mais frequência, devido às pequenas dimensões da área de jogo e menor número de intervenientes. Assim, pela prática contextualizada vamos criar condições para que os jogadores atinjam melhores e mais rápidos níveis de expertise e de desempenho ao nível da tomada de decisões, do que o fariam com treinos menos específicos e, consequentemente, mais pobres ao nível da tomada de decisão.

Para Duarte Araújo, a não contextualização das tarefas/exercícios, vai criar dificuldades nos jogadores em saber o que e como fazer, jogando aquém das suas possibilidades. Este mesmo autor refere que a prática deve ser holística, mantendo a ligação entre as fontes de informação relevante e as acções dos jogadores.

 Por fim, os treinadores devem propor tarefas, onde os jogadores aprendam como encontrar o seu próprio comportamento adaptativo, de forma a antecipar e a resolver os problemas com que se deparam no jogo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

O Cérebro & Selecção de Conteúdos de Treino



Os constrangimentos e carácter mutável num jogo colectivo, como é o caso de futebol, são de tal forma tantos – bola, adversários, colegas, estratégia, leis de jogo, etc…- que se torna cada vez mais impreterível que exista um melhor recrutamento e desenvolvimento das ligações neuronais dos atletas de forma a obtermos cada vez mais rápido e melhores respostas durante a competição.

 Daniel Goleman refere que o cérebro humano não se encontra totalmente formado à nascença, continua a moldar-se ao longo da vida… porém o período de crescimento mais intenso é durante a infância. As crianças nascem com mais neurónios no seu cérebro do que os que possuirão na fase em que este se encontre completamente amadurecido. Durante os primeiros anos de vida, o cérebro da criança é sujeito a um processo chamado “poda”, em que as ligações neuronais menos utilizadas vão sendo eliminadas, ao mesmo tempo que forma sinapses (ligações nervosas) mais fortes nas ligações neurais mais utilizadas. Este processo de esculpir o cérebro é extremamente rápido (podem formar-se ligações sinápticas numa questão de dias ou semanas), especialmente durante a infância.

Na infância é, então, o período óptimo para desenvolver as sinapses neuronais, onde pode e deve ser aproveitado por pais, professores e treinadores para dotar as crianças de um sem fim de estímulos de modo a terem um rede neuronal bem vasta e evoluída. No que toca à prática desportiva, esta deve ser o mais alargada possível, devendo as crianças praticar a maior variedade possível de desportos. Aquando da iniciação da prática do futebol, entre os 5/6 anos, o ensino deve incidir sobretudo numa grande variabilidade de estímulos do ponto de vista coordenativo.

O cérebro humano é extremamente plástico e adaptativo ao longo de toda a sua vida, mas nada que se compare aos primeiros anos de vida, logo, é necessário ter uma linha bem definida do que se pretende que o atleta aprenda em cada fase de desenvolvimento, para se proceder a uma escolha acertada do tipo de estimulo a que deve ser sujeito.

No que toca ao futebol sénior, o tipo de informação/estimulo que se deve propor aos jogadores deve estar intimamente ligada com o tipo de jogo que o treinador pretende. Nesta fase da vida, a capacidade de aprendizagem e de desenvolvimento de sinapses neuronais é menor do que na infância, logo se se pretende ver materializado em campo uma forma de jogar, é imperativo que se treine precisamente essa forma de jogar.

Atendendo às características que o cérebro humano tem para receber e tratar informação, parece-me a mim que uma boa maneira de potenciar esta capacidade de aprendizagem é a de treinar o mais possível em especificidade.

O treino em especificidade, vai permitir desenvolver e fortalecer sinapses neuronais específicas de comportamentos tipo que o treinador pretende que a sua equipa reproduza em campo. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Treino para Crianças e não só, By José Mourinho



Os melhores treinadores do mundo são os que percebem muito de todos os domínios do treino, o futebol dos jovens é também futebol, não acredito que existam só treinadores para seniores ou só treinadores para jovens, existem antes treinadores com mais ou menos conhecimentos e com mais ou menos capacidade de aprendizagem.

A aprendizagem é quanto mim, tanto mais rica quanto mais dispostas estejam as pessoas a aprender, trago uma aula do “Mestre” do treino, para quem estiver disposto a aprender.
( Ver Link´s abaixo)

 




segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

A Escolha do Treinador Principal e a Formação


Quando se fala do futebol formação e da importância que este tem para o seu clube é, quanto a mim, necessário lançar-se um olhar bem cuidado e atento sobre esta temática, antes de determinar a real importância da mesma para o respectivo clube.

É resposta comum ouvir dizer-se que esta área do futebol não profissional é muito importante para o clube, que os “miúdos” são o que o clube tem de melhor, que são o futuro, etc... Já referi que, a meu ver e ainda para mais no panorama económico-social actual, um investimento nos activos do clube pode ser, em muitos casos, a tábua de salvação para os mesmos.

Em cenários de crise, as empresas que normalmente sobrevivem são aquelas que em vez de entrarem em recessão (a fazerem despedimentos ou investimentos de recurso e em cima do joelho), investem na formação dos seus activos e na promoção dos mesmos para quadros superiores dentro da empresa. Este princípio pode e deve ser aplicado aos clubes de futebol, até porque actualmente, muitos deles, já têm uma gestão de cariz empresarial. Assim, o que pretendo transmitir é que os clubes devem investir na formação dos seus técnicos e dos seus jovens jogadores de modo a que todos eles se possam valorizar e, consequentemente, poderem ser alvo de receita para o clube.

Para que tal seja possível, considero ser condição essencial que o clube tenha um modelo a seguir, algo que defina a forma como todas as equipas do clube devem jogar, que defina o perfil das pessoas que integram o projecto de clube. A “cereja no topo do bolo” terá de ser, obrigatoriamente, o treinador da equipa principal.

Quando digo que o treinador da equipa principal deve ser a “cereja no topo do bolo”, é porque este será quem vai abrir a porta de entrada dos jovens provenientes da equipa B ou dos juniores para o plantel principal. Logo a escolha do homem que vai ser uma das caras principais de todo o clube, deverá ser uma escolha criteriosa.

O novo técnico deve, então, ser escolhido tendo em consideração o enquadramento do mesmo na filosofia do clube, ou seja, se é alguém capaz de construir uma forma de jogar para a equipa principal que honre os pergaminhos do clube e que dê continuidade ao trabalho que o clube tenha desenvolvido ao longo de anos na formação, permitindo, desta forma, a manutenção da imagem que o clube pretende para si e que as portas de entrada da equipa principal estejam verdadeiramente abertas para os melhores talentos oriundos da formação do clube.

A entrada dos jovens jogadores no plantel principal do clube é uma forma de validar o trabalho que foi realizado durante anos por pessoas que se encontram na antecâmara do clube e que desempenharam um trabalho meritório. Só estando no plantel principal é que estes jovens jogadores poderão ter oportunidade de jogar, de se valorizarem e serem vendidos, produzindo receita para o clube, com uma vantagem acrescida: só os jogadores da casa são capazes de produzir e conservar a marca do clube, pois são “os filhos da casa” que mais sentem e honram a camisola.

A escolha de um treinador de recurso para o plantel principal raramente se revela um boa opção nem para o plantel principal, nem para a formação do clube. A história está repleta de casos de como uma má escolha para o cargo de treinador principal foi destrutiva para um clube ou selecção de um país