segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Que Futuro Para o Futebolista Português?


Sou um apreciador, confesso, das qualidades do futebolista Português, sendo o seu virtuosismo técnico reconhecido por todo o mundo - por vezes, mais até que dentro de portas. Em “A Origem do Futebol Espetáculo” referi a importância que o futebol de rua teve na formação futebolística e humana de jogadores como Luís Figo, Rui Costa, João Pinto, entre outros, todos pertencentes à denominada “Geração de Ouro” do futebol Português e, mais recentemente, em Cristiano Ronaldo. Conforme se recordarão, no referido artigo fazia, igualmente, referência ao facto dos atletas passarem vastas horas na rua a jogar, nos mais diferentes contextos, o que os dotaria de diferentes habilidades motoras.

Os estilos de vida promovidos por uma sociedade mais individualista, consumidora de bens supérfluos para o desenvolvimento da criança e com interesses cada vez mais distantes dos valores do desporto, constituem factores que têm contribuído para a diminuição do número de praticantes, o que terá como consequência a diminuição de uma possível base de recrutamento de potenciais talentos. – Conforme será do conhecimento de todos os agentes desportivos, que uma base de recrutamento alargada, aumentará as possibilidades de recrutar talentos.
          
      Cada vez mais, os seleccionadores dos vários escalões nacionais vão debater-se com a problemática de seleccionar jogadores para representar as cores nacionais – bastará olharmos atentamente para o exemplo da Selecção A, em que já tivemos de recorrer, por diversas vezes, a futebolistas naturalizados, precisamente pela falta de matéria humana capaz de representar a selecção nacional ao nível que todos esperamos.
          
        A falta de legislação adequada quanto à entrada de jogadores estrangeiros é um dos maiores problemas com que nos debatemos actualmente. Não quero, claro está, com isto dizer que sou contra a entrada de futebolistas provenientes de outras paragens nos nossos campeonatos. Defendo, contudo, que devem existir critérios de entrada mais selectivos, pois o elevado número de futebolistas estrangeiros que estão no nosso campeonato e que não acrescentam “nada de novo” ao mesmo, é demasiado elevado, retirando espaço de afirmação aos jovens futebolistas nacionais. É habitual ouvir-se, nos mais variados meios de comunicação e locais de debate futebolístico, comentários relativos a esta temática. Porém, no que toca à operacionalização de alguma medida concreta, pouco ou nada tem sido feito.

Esta questão é ainda mais preocupante quando se estende ao futebol formação, em que vemos um elevado número de estrangeiros nos planteis dos clubes nacionais. Recordo-me de ver uma equipa de juniores, de um clube “grande” do nosso futebol, formada por 19 estrangeiros. As questões imediatas que se colocam são: Esses jogadores tinham mesmo qualidade para estar nesse grupo? Se tinham, que é feito dos mesmos? A sociedade Portuguesa e profícua em situações em que ninguém é responsabilizado por erros de má gestão ou pela sua incompetência. Esta será, apenas, mais uma.

           Outra questão que contribui, em muito, para esta entrada de jovens futebolistas nos escalões de formação, é o facto de os empresários deterem, cada vez mais cedo, direitos desportivos sobre os mesmos, como também, conforme será do vosso conhecimento, ou pelo menos do conhecimento daqueles que frequentam o meio futebolístico, o tipo de relações que estes detêm com as pessoas que gerem os clubes.

Em muitos dos casos, os futebolistas de outras nacionalidades detêm documentos identificativos fraudulentos – é algo que ninguém assume, mas todos sabemos da sua existência. Nestes casos, os clubes e os seus técnicos têm a maior das culpas, pois têm conhecimento destas situações mas a importância da vitória sobrepõe-se a valores bem mais importantes.

Estes jogadores estrangeiros são, usualmente, apelidados de jogador ambiente, em que, segundo o termo e justificação dada por parte de quem os utiliza, os mesmos servem para ajudar a crescer os restantes futebolistas do plantel, ajudando-os a evoluir. Na minha opinião, esta é, apenas, a desculpa perfeita para justificar a ambição desmedida e eticamente reprovável que existe em vencer a todo o custo. Facilmente podemos contrariar esta pseudoteoria: Os jogadores que se revelarem mais evoluídos para o escalão em que se encontram, podem e devem ser promovidos a jogar por um escalão acima, aumentando assim o nível competitivo em que os mesmos se vão desenvolver. Assim, outra pergunta que me surge é: Quantos jogadores se perderam neste processo por terem sido relegados para segundo plano por um jogador que não pertence àquele escalão? Quantos foram levados a desistir?
           
          O nível competitivo dos nossos campeonatos não promove, de todo, o crescimento dos jovens futebolistas. Os calendários e a forma como os grandes clubes podem e recrutam os melhores futebolistas, é um factor importantíssimo no não desenvolvimento dos jovens jogadores. Explicando: o facto dos grandes clubes recrutarem, com tenra idade, os melhores futebolistas, acenando com melhores condições de treino e a possibilidade de uma carreira profissional num clube de top para os miúdos, faz com que seja criado um fosso enorme entre estas equipas e aquelas com quem competem, verificando-se resultados tão desnivelados que chega a ser traumático para os miúdos das equipas contrárias. Alguém acredita que uma vitória por 10 a 0 no campeonato nacional de juniores ou de 20 a zero num campeonato de infantis vai trazer alguma vantagem para o crescimento dos jovens futebolistas? Parece-me óbvio que não. Sou da opinião que até uma determinada idade, os jovens futebolistas não deviam poder representar clubes fora da sua área de residência – Claro está que para este tipo de medidas serem bem-sucedidas e as crianças encontrarem técnicos de qualidade e metodologias de treino adequadas era importante que a Federação e as Associações supervisionassem e criassem condições para que tal acontecesse, em vez de andarem a construir estádios, com custos elevadíssimos, para estarem vazios. Assim e havendo uma política transversal no que toca à formação desportiva dos jovens atletas, estes não encontrariam diferenças significativas de clube para clube.
           
       Um olhar atento e uma reflexão do que são os quadros competitivos permite aferir, considerando os jogos das fases finais dos respectivos campeonatos nacionais de Iniciados, Juvenis e Juniores (por norma só os jogadores de segundo ano estão nas equipas A do respectivo escalão), que ao longo de toda a sua formação desportiva estes jovens fizeram menos de 30 jogos realmente competitivos. Será que com 19 anos e depois de realizarem este percurso desportivo estão preparados para integrar os planteis principais dos respectivos clubes? Será que com estes quadros competitivos e com a falta de legislação não se perdem bons valores pelo caminho? Será que as equipas B podem dar resposta às necessidades dos jovens futebolistas e trazer mais jogadores nacionais às equipas da nossa Primeira Liga?
         
            Ficam, assim, algumas perguntas por responder, relativamente às quais deveremos reflectir, uma vez que, na minha opinião, todas elas terão implicação directa no futuro (ou na ausência deste) dos jogadores nacionais e da Selecção Portuguesa de Futebol.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Proposta de Exercício para Melhorar o 1x1



Em artigos que escrevi anteriormente denotei sempre, a importância do trabalho da técnica individual e da importância que estas têm na resolução das situações 1x1 e consequentemente na resolução de jogos de futebol. O exercício que apresento no vídeo abaixo (vídeo de Luís Vilar), é um excelente exemplo de como se podem trabalhar as situações 1x1 em jovens futebolistas.  



segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Desmistificar o Treino em Especificidade



“Especificidade” é, quanto a mim, uma palavra polissémica pois, como o próprio nome indica, é susceptível de ter vários significados – sendo que, num treino de futebol, a “especificidade” também poderá ser encarada de variadas formas.

À luz de uma concepção de treino mais convencional (doutrina Matveiana), em que o trabalho físico assume um papel central na preparação, principalmente em períodos prévios ao início da época desportiva, mais conhecida por Pré-época, a “especificidade” é encarada, após uma caracterização das exigências do jogo nos aspectos físicos, como um treinar desses aspectos de forma isolada.

Treinar aspectos de ordem técnica (como, por exemplo, o remate, o passe, a recepção, o cruzamentos, entre outros) é visto, por vezes, como sendo uma forma específica e isolada de garantir a adaptação.

Existe, também, uma corrente opinativa (por parte de quem não domina este conceito de “especificidade”), que defende que o simples facto de se estar a treinar com bola significa que se está a treinar em “especificidade” – quando, na realidade, o que acontece, muitas vezes, é que se esta a treinar de forma integrada, ou seja, a bola entra efectivamente nos exercícios mas única e simplesmente para mascarar o verdadeiro sentido dos mesmos, que é puramente físico. Efectivamente, este tipo de realidade tem algo de mais específico ou que se aproxime ao jogo, que é a bola. Porém, este não é um treinar em “especificidade”.

Não me parece que o simples facto de treinar com bola, treinar em espaços reduzidos ou mesmo numa situação em que a bola assuma um papel central do treino, seja treina verdadeiramente em “especificidade”. À luz de uma concepção do treinar sobre uma periodização táctica (conceito de modelização sistémica), treinar em “especificidade” esta intimamente relacionado com o Modelo de Jogo que cada treinador preconiza para a sua equipa. Oliveira (1991) refere que treinar é criar ou trazer para o treino situações táctico-técnicas e táctico-individuais que o jogo requisita, envolvendo os jogadores e todas as suas capacidades, através do modelo de jogo e respectivos princípios adaptados. Todos os exercícios devem ser elaborados de acordo com o modelo de jogo adaptado. Assim, todas as componentes físicas, psicológicas, técnicas e estratégicas devem ser dependentes da componente táctica, sendo que a melhoria das mesmas está intimamente ligada com o treinar a “especificidade” do jogar.

Para responder ao modelo de jogo o treino deve ser reduzido a um espaço similar, o campo, devendo os exercícios fazer parte do mesmo. Quando me refiro a que “devem ser parte”, pretende dizer que se deve reduzir mas não empobrecer. O treino em “especificidade”, à luz desta concepção de treino em periodização táctica, como já referimos anteriormente, engloba todas as capacidades do atleta (quer físicas quer técnicas quer psicológicas) em simultâneo, logo é imperativo que os treinadores olhem para estes aspectos com a importância que eles efectivamente têm e que o seu objectivo seja no sentido de criarem exercícios que os contemplem a todos.

Contudo, por vezes, isso não acontece, visto que os técnicos não reflectem o suficiente sobre o seu modelo de jogo e consequentemente a escolha dos exercícios de treino que visam a operacionalização da forma de jogar, não é a mais acertada. O facto de não haver uma grande preocupação com as acções táctico-técnicas individuais dos seus jogadores é exemplo disso mesmo. Um exemplo prático: Uma equipa tem definido no seu modelo de jogo que o seu lateral esquerdo não sobe muito no terreno de jogo, e que sempre que receber a bola deve jogar directamente no Ponta de Lança. Ora, esta situação é treinada no contexto táctico e estratégico da equipa, mas será que esta questão é convenientemente treinada no aspecto táctico-técnico do jogador de forma individual? O que deve acontecer, é que nos exercícios criados pelo treinador esta questão deve estar implícita, devem surgir exercícios em que este jogador nesta acção do jogo, deve receber a bola preferencialmente no pé e não em movimento. Situação diferente será ter um lateral que suba no terreno, pois ai devem ser criados exercícios em que este receba a bola no espaço e em profundidade para depois cruzar ou tomar a decisão que o jogo se lhe exija.

Durante o período preparatório surgem, com muita frequência, lesões músculo-esqueléticas, rupturas musculares e entorses. Este facto deve-se, também, à falta de “especificidade” do treino durante este período pois, ainda hoje, se assiste a treinadores que acreditam que durante o período preparatório se devem ganhar bases do ponto de vista físico para toda a época desportiva, concentrando o seu trabalho em grandes volumes de carga física. Durante o período em que o trabalho é eminentemente físico, toda a estrutura músculo-esquelética dos jogadores sofre adaptações aos movimentos realizados, a forma como a contracção muscular é feita nos exercícios analíticos, realizados neste período, é bem diferente daquela que é feita quando a bola entra nos referidos exercícios. Assim, o tipo de estímulo e resposta exigida aos jogadores é bem diferente daquela a que estavam habituados, logo surgem as lesões.

 Quanto a mim o treino em “especificidade” só o é verdadeiramente quando está subjugado na íntegra ao modelo de jogo. Só treinando os comportamentos que pretendemos que sejam aplicados é que os mesmo irão surgir durante o jogo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Seduzir Para Liderar



Desde os primórdios dos tempos que os grupos sempre sentiram necessidade de que um dos seus elementos tomasse a dianteira,  indicasse o caminho, que fosse o guia. Este papel era, e é, desempenhado por alguém com o mais variado dos estilos, dependendo, desde logo, da sociedade em questão, do tempo em que existiu e dos valores por que se rege.

O guia ou chefe do grupo tanto podia ser homem como mulher. Invariavelmente, seria o mais forte do grupo, o mais ágil, o mais inteligente e poderia mesmo ser o mais idoso do grupo.

O guia, por vezes, era encontrado de uma forma "natural", ou seja, tornava-se líder aquele  elemento do grupo que resolvia, com mais frequência, os problemas com o grupo se deparava no seu dia-a-dia.

A força foi, desde sempre, uma alternativa às opções acima mencionadas. A conquista de outros grupos e terras pela força foi uma constante ao longo da história da humanidade.

A história revela-nos, porém, que esta forma de conquista nunca se revelou duradoura, pois os grandes impérios e os grandes exércitos foram sempre construídos com base em  ideais e valores que, não sendo por vezes os mais correctos, eram aqueles que os líderes indicavam com o sendo.

Lideres como Martin Luther King, Napoleão Bonaparte, Mahadma Gandhi ou Adolf Hitler têm em comum uma enorme capacidade de congregar à sua volta todos os que os rodeavam... quer fosse pela promessa de um futuro melhor para os seus, pelo exemplo que estes davam ou pela maneira como inspiravam os seus seguidores.

A literatura divide a liderança em vários estilos. Estes são agrupados em função do tipo de recursos ou estilo que o seu líder usa para exercer a sua liderança, e podem ser:

Liderança autocrática: também conhecida como liderança autoritária, aqui o líder toma decisões individuais sem considerar o que os seu liderados pensam, ou seja, ele define o que se deve fazer e quem deve fazer.

Liderança democrática: este tipo de liderança permite a participação por parte dos liderados no processo de decisão.

Liderança Liberal: aqui o líder permite que os seus liderados executem as acções de forma autónoma (indiciando ser um grupo maduro e que não precisava de supervisão constante).

Liderança Paternalista: aqui os líderes têm uma relação com os seus liderados de paternidade. Pode ser confortável para evitar conflitos, porém este tipo de liderança não é adequado numa relação profissional.

No desporto, tal como em todos os outros movimentos sociais, existe a necessidade de liderar e ser liderado. O futebol,  sendo o desporto com maior expressão social a nível mundial, também tem sido alvo de estudo e reflexão no que aos seus líderes e processos de liderança diz respeito.

Mourinho e Guardiola são, actualmente, no mundo futebolísticos os lideres mais mediáticos e apesar de para a imprensa terem uma imagem bem diferente um do outro, na realidade, no que toca à liderança que estes exercem no seio dos seus grupos, não são assim tão diferentes. Ambos são altamente mediáticos, ambos têm uma relação de grande proximidade com os seus liderados, não tendo receio de se colocarem ao nível dos mesmo, coisa que a maioria dos treinadores não faz com os seus atletas. A honestidade para com os seus atletas é, também, uma semelhança entre ambos,  os seus atletas sabem o que os seus treinadores esperam deles e a prova disso é a relação que estes têm com os seus ex-atletas e com as instituições para as quais trabalharam anteriormente.

A minha visão de liderança é fruto do estudo, da reflexão e das experiências por mim vivenciadas  Acredito, firmemente, que liderar é, acima de tudo, um processo de "sedução". Os lideres têm de "seduzir" os seus liderados para o caminho que estes apresentam como sendo o adequado. Para que tal aconteça, o líder tem de possuir uma boa oratória, pois o seu discurso tem que ser fluido e coerente, tem que dar o exemplo sendo o primeiro a seguir o caminho indicado por si mesmo. Um líder não deve, em momento algum, tratar todos de forma igual mas sim com justiça, pois não faz sentido aplicar o mesmo castigo a um atleta que prevarica uma vez e ao que esta constantemente a fazê-lo.

Os jogadores devem acreditar convictamente no trabalho que o seu líder lhes apresenta e na maneira como devem executar a sua missão. Sim, porque o espírito que deve existir no seio do grupo é que existe, efectivamente, uma missão a atingir e essa missão (títulos, sucesso, etc…) será tanto mais facilmente atingível quanto maior for a capacidade do líder em "seduzir" todos os elementos do seu grupo para este espírito de equipa e de missão.

Por outro lado, não acredito em lideranças autoritárias no desporto. Os lideres que guiam única e simplesmente pela posição que detêm no seio do grupo, não são dignos de serem considerados líderes e devem ser antes apelidados de chefes, uma vez que, ser chefe é algo bem diferente de ser líder. O mandar fazer sem que os seu jogadores percebam o porque não é uma característica de um líder na verdadeira acepção da palavra, pois os grupos e as pessoas não acreditam no “faz isto ou aquilo porque sou eu quem manda”, fazem-no porque aquele que dá tal ordem tem, efectivamente, uma posição superior na hierarquia. Porém, o seu rendimento jamais será tão produtivo ou rentável como se este acreditasse, verdadeiramente, no que está a fazer, ou seja, foi mandado e não "seduzido" a fazê-lo.

O processo de liderar é algo de extremamente complexo e acredito, convictamente, que a melhor maneira de fazê-lo é o líder "seduzir" os seus liderados, ou seja, atrai-los para as suas ideias e fazê-los acreditar que se o fizerem o seu futuro será bem melhor. A promessa de algo melhor para os seus seguidores deve estar sempre associada à missão a cumprir.
Lideres "seduzam".

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Técnica Individual - Proposta de Trabalho

É minha convicção que o futebol, como qualquer jogo de equipa, carece de organização, sendo necessário que os elementos da equipa tenham o mesmo pensamento perante as várias situações com que se venham a deparar ao longo do jogo.

No entanto, o que se verifica em alguns jogos é que as equipas detêm um enorme conhecimento reciproco e estão de tal forma organizadas que, por vezes, para o espectador comum, perde algum interesse, perde a imprevisibilidade que o deveria caracterizar, podendo mesmo tornar-se um espectáculo aborrecido.

É aqui que os jogadores mais dotados do ponto de vista técnico e de habilidades motoras assumem um papel de relevo, pois são estes que, através das suas qualidades, desbloqueiam o jogo, alterando o resultado do marcador e o rumo dos acontecimentos. Contudo, o que acontece, com frequência, é que enquanto o marcador não sofre alterações as equipas tendem a não assumir o controlo do jogo. Porém, quando o marcador se altera, a equipa em desvantagem começa a arriscar mais e, como consequência disso, o jogo ganha outra dinâmica e outro interesse para o espectador.

Conforme referi em artigos anteriores – especialmente em: “A importância do Ensino da Técnica Individual” – é de extrema relevância o ensino de técnicas aos jogadores, quer sejam elas de caris ofensivo quer defensivo. A proposta de trabalho que apresento é a de optimizar algumas capacidades técnicas em contexto de jogo.

De uma forma prática: A figura abaixo apresenta três exercícios em que, consoante a manipulação do número de balizas e do guarda-redes, iremos obter resultados diferentes, ou seja, a utilização de um ou outro exercício revelará que existem diferenças estatisticamente significativas ao nível dos gestos técnicos observados.

No primeiro exercício, jogam duas equipas GR ­+ 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre uma baliza; No segundo exercício jogam duas equipas GR­ + 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre duas balizas; No terceiro exercício, jogam 6x6, com ataque à zona alvo, ou seja, para pontuar, os jogadores têm que passar com a bola controlada sobre a linha de fundo.







Como podemos verificar no quadro acima, existem diferenças no número de passes certos, sendo observável, também, que onde esta acção ocorre com mais frequência é no JR3 (6x6 ataque a zona alvo). Assim, creio que este será um bom exercício para melhorar a técnica de passe em contexto de jogo.

Nas acções 1x1 verifica-se que existem diferenças estatisticamente significativas: Ao analisarmos o quadro acima é manifesta a existência de mais acções de 1x1 nos JR2 (GR­ + 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre duas balizas) e no JR3 (6x6 ataque a zona alvo), com uma pequena diferença entre ambos, sendo no JR2 que se revelam existir mais confrontos nas acções 1x1. Assim, estes dois exercícios poderão ser um excelente meio para melhorar este tipo de acções, tão importantes no desequilíbrio do jogo.

No número de intercepções existem, também, diferenças estatisticamente significativas: O exercício que revela ser mais eficaz para trabalhar este tipo de acções técnicas de cariz defensivo é o JR1 (GR ­+ 6x6 + GR ataque sobre uma baliza), pois é neste exercício que o número de intercepções ocorre com mais frequência.

Finalmente, e apesar de não existirem diferenças estatisticamente significativas, o JR2 revela ser um bom exercício para melhorar o passe longo, pois é neste exercício que existe um maior número desta acção.



Nota: Este estudo foi realizado no âmbito da minha tese de Mestrado, cujo título é “Jogos Reduzidos de Futebol - Estudo do comportamento técnico-táctico em jogadores Sub-15, bem como respectiva variação da frequência cardíaca e percepção subjectiva do esforço, em situações de jogo de 6 x 6 com objectivos tácticos diferenciados.”, datada de Julho de 2012.


sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A Importância do Ensino da Técnica Individual


O futebol, como  qualquer outra modalidade desportiva, exige que se faça um planeamento coerente e bem estruturado do que devem ser os conteúdos de aprendizagem que serão ministrados aos atletas/ jogadores desde a sua chegada aos clubes até à excelência do desporto, o Alto Rendimento.

A metodologia de treino tem sofrido, ao longo dos tempos, várias mutações fruto de vários estudos que tem sido alvo,  de algum interesse existente por parte de alguns técnicos e clubes juntos de investigadores e estudiosos das mais distintas áreas do conhecimento.

Actualmente, o jogo em si próprio está, também, muito diferente do que nos tempos em que as tecnologias de vídeo e áudio eram apenas uma miragem. Actualmente este tipo de meio, disponível ao treinador de qualquer modalidade desportiva, permite que exista uma maior informação sobre a equipa adversária e das suas acções em situação de jogo. Tal acontece porque, hoje, os treinadores pretendem controlar o maior número de variáveis do jogo e, para tal, entre outras coisas, utilizam no seu treino aquilo que é conhecido no meio futebolístico como a sistematização de conteúdos (repetição exaustiva de uma determinada acção), dando pouco espaço à criatividade e ao improviso dos seus jogadores. Assim, o jogo fica muito estandardizado e previsível, podendo as acções serem facilmente anuladas pelo adversário, dado o elevado conhecimento que o mesmo detém.

É aqui que o jogo ganha uma nova dimensão, a dimensão da técnica individual dos jogadores. E é neste aspecto que incide a minha reflexão deste texto.

 Os profissionais que se encontram há muitos anos no meio, têm por hábito afirmar que no futebol está tudo inventado. Desengane-se quem assim pensa. As crianças, como já afirmei em artigos anteriores tem uma inesgotável capacidade de aprendizagem, mas só aprendem o que se lhes ensina.

Assim é de extrema importância o ensino da técnica individual aos jovens atletas. E quando digo técnica individual não me refiro apenas àquela que visa ultrapassar um adversário ou a tudo o que diga respeito às acções ofensivas, mas também àquela que permite um desarme ou uma intercepção de bola.

 O ensino da técnica individual deve ser, de igual modo, distribuído quer pelas acções ofensivas, quer defensivas.

Na minha opinião, os clubes e as academias deveriam ter técnicos especializados neste tipo de ensino. Em países como a Holanda é já uma prática muito corrente. Porém, já há no nosso país quem tenha "importado" esta corrente.

Só dotando os nossos jovens atletas de “armas”, recursos técnicos, é que podemos ver nos nossos relvados jogadores capazes de resolver determinado tipo de situações ou jogos que o conjunto ou o trabalho de equipa muitas vezes não consegue devido ao altíssimo nível de organização que a equipa contrária apresenta.

O vídeo em anexo serve precisamente para os leitores verem como pode a técnica individual desequilibrar o que o colectivo não estava a resolver. Aliás, os recursos utilizados pelo Zlatan Ibrahimovic, são acções que lhes foram ensinadas durante a sua formação desportiva.





terça-feira, 6 de novembro de 2012

Acção dos Defesas Centrais no Processo Ofensivo


Longe vão os tempos em que os defesas centrais eram vistos, apenas, como elementos “destruidores” do jogo ofensivo das equipas adversárias, em que o seu porte físico se caracterizava por apresentarem uma grande envergadura, em que revelavam, muitas vezes, alguma violência nas bolas divididas, procurando atemorizar os adversários e em que a sua participação no processo ofensivo da sua equipa se resumia às bolas paradas – como cantos e livres. Actualmente, este tipo de jogador foi perdendo espaço no futebol de alto nível, sendo que, porém, num futebol mais “amador”, ainda se vão encontrando alguns – considero, contudo, que a tendência será o “desaparecimento” deste tipo de futebolistas.

Tal modificação de características deve-se, essencialmente, a novos métodos de treino, em que a presença da bola assume um papel mais relevante nas unidades de treino, levando a uma consequente evolução técnica por parte destes futebolistas. Um outro factor que considero importante está relacionado com a maneira como, cada vez mais, as equipas procuram jogar, pois o jogo directo ou o “pontapé para a frente” é cada vez mais escasso, dando lugar a um futebol cada vez mais apoiado na figura dos defesas centrais como intervenientes importantes e activos.
           
        O primeiro passe na manobra ofensiva da equipa é, por norma, efectuado por um defesa central. Logo, é de extrema importância que este saia de uma forma eficaz, pois um erro na primeira fase de construção do jogo poderia ser fatal para toda a equipa, podendo mesmo hipotecar o resultado final do jogo. Desta forma, é necessário que estes tenham uma boa capacidade de passe, quer curto quer longo, pois muitas vezes, quando este jogador é pressionado e a linha de passe mais próxima se encontra fechada, o mesmo terá de recorrer ao passe longo para iniciar a construção do jogo ofensivo numa segunda linha.
           
         Não é raro ver as equipas baixarem o bloco defensivo e marcarem de perto os jogadores adversários, impedindo-os de receber a bola… Aqui, o jogo directo também perde eficácia, pois seria muito mais vantajoso para quem defende, do que para quem ataca, uma vez que estariam de frente para a bola – ao contrario de quem se encontra em manobra ofensiva. Ora, é aqui que os defesas centrais voltam a assumir importância, pois quando detentores de uma boa qualidade técnica podem e devem subir no terreno com a bola controlada, provocando automaticamente desequilíbrios na organização defensiva adversária.




sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A Ciência ao serviço do Futebol


Nos dias que correm, a ciência esta em todo o lado. Aliás, hoje o mundo é ciência, sendo que o Futebol, porque associado, cada vez mais, ao mundo do espectáculo e fonte inesgotável de receitas, tem-se revelado como um ponto de interesse por parte de cientistas e investigadores.
            Existem, sempre, diferentes facções e maneiras de olhar para esta “invasão” da ciência num mundo tão conservador como o futebolístico, sendo prova disso mesmo o facto da não introdução de novas tecnologias ao nível da arbitragem.
            O vídeo que se segue vem desmistificar varias questões – quanto a mim, pertinentes – relacionadas com aspectos que vão da tomada de decisão nas grandes penalidades, até a questões relacionadas com a evolução dos equipamentos desportivos.
Deixo à consideração de todos vós a determinação da importância, ou não, das novas tecnologias no mundo futebolístico.