quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Descoberta Guiada – Facilitar versus Dificultar



O ensino do futebol tem vindo, ao longo dos tempos, a sofrer alterações no que diz respeito à sua forma e ao seu conteúdo. Era (e ainda é) frequente ver treinadores de jovens atletas a ter uma atitude completamente dirigista no que respeita ao que os seus alunos/jogadores devem fazer nas sessões de treino.
Para além de existir, por parte dos treinadores, um dirigismo excessivo, o recurso a exercícios analíticos, completamente descontextualizados do que é o jogo e as suas necessidades, foi e é também uma prática corrente.
Os intervenientes (treinadores) no treino de jovens jogadores têm, por norma, este tipo de comportamentos, o que se poderá justificar ou pela ausência de conhecimento de outros métodos de ensino ou porque acreditam que esta é a forma mais eficaz de uma criança – aquele ser pequeno e frágil – aprender.
Creio que este tipo de comportamento revela um total desconhecimento do desenvolvimento das criança, pois estas, em idades mais tenras, num espaço de tempo, tao curto, como os primeiros 18 a 24 meses de vida (estádio sensório-motor ou primeira infância), passam de um estado de completa dependência, a realizarem coisas tão importantes e difíceis de fazer como é o caminhar e o falar. Nos anos seguintes, nas idades compreendidas entre os 5/6 anos até aos 11 anos, as crianças apresentam uma inesgotável capacidade de aprendizagem. Compete ao Treinador/Professor “bombardear” os jovens praticantes com a maior variedade de estímulos possível.
Como se não bastasse, os Treinadores/Professores, para além de terem uma postura completamente dirigista, ainda incorriam/incorrem no erro de dar aos jogadores a solução do exercício proposto. Parece-me, que este tipo de comportamento não traz consigo a variedade de estímulos suficientes para o desenvolvimento motor e psíquico que as crianças podem atingir nesta fase de desenvolvimento.   
            A minha proposta vai no sentido de que o treinador deve propor um objectivo a atingir, mudando o meio, ou seja, alterando as variáveis do exercício. Esta nova forma de ensino, denominada de “Descoberta Guiada”, consiste, nada mais, nada menos, no professor propor um exercício, definir um objectivo e criar as condições para que os seus jogadores atinjam o fim pretendido. Não deve, em momento algum, facilitar a tarefa aos mesmos, dirigindo o exercício ou dando soluções… Deverá, assim, permitir que os mesmos errem e quando isso acontecer a atitude a adoptar será questioná-los se perceberam qual seria a melhor opção a tomar no momento, perante a situação que o jogo lhes propôs.
            O erro assume um papel importante neste processo de aprendizagem, pois o erro permite aos jovens jogadores a oportunidade de descobrirem outros caminhos para o objectivo a alcançar. Já no tocante ao Treinador, o erro permitir-lhe-á efectuar as questões necessárias para, deste modo, guiar o seu aluno à resposta por si pretendida. Assim, o erro nunca deverá ser recriminado, devendo-se felicitar o jovem atleta sempre que este atinja o sucesso.
            Acredito que a melhor forma de ajudarmos os jovens jogadores a atingir o máximo das suas potencialidades é a de lhe criarmos o maior número de dificuldades possível e não nos deixarmos cair na tentação de lhes darmos a resposta.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Proposta de Trabalho das Capacidades Físicas em Futebol


Durante anos, as capacidades físicas dos atletas praticantes dos denominados Jogos Desportivos Colectivos, como o futebol, eram trabalhadas de forma isolada e, para isso, os treinadores utilizavam métodos provenientes de modalidades individuais como o atletismo, onde a investigação do treino das capacidades físicas aparece muito antes do que nas modalidades individuais.
Um dos métodos mais utilizados era o “Método Fartlek”, originário da Suécia, que significa jogo de velocidade. Este método baseia-se em exercícios de corrida de forma aeróbia e anaeróbia e a base do mesmo é a existência de mudanças de velocidade ou a introdução de rimos com aceleração durante um determinado período de tempo. O objectivo deste método é a preparação dos atletas para estarem na sua máxima forma física na altura das competições.
Porém, surge-me uma dúvida na utilização deste método: Será possível definir picos de forma para 24 ou 25 jogadores – número de jogadores que normalmente compõe uma equipa de futebol – em que cada um deles tem características físicas diferentes? 

Creio que a resposta a esta minha dúvida é negativa, uma vez que, o futebol tal como as outras modalidades desportivas colectivas, aprendem-se e treinam-se a jogar, sendo que o “segredo” estará em decompor o jogo em formas mais simples, permitindo assim que a sua aprendizagem seja mais fácil.

No plano energético-funcional o futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo ou aeróbio (Aroso, 2003; Rebelo, 1993; Reilly, 2005). No entanto, da minha análise, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994).

A proposta de resolução desta questão que apresento é a seguinte: Treinar as capacidades físicas maioritariamente utilizadas durante um jogo de futebol, mas de uma forma mais agradável para os jogadores e mais de encontro às necessidades que os mesmos encontram no jogo.

De uma forma prática: A figura abaixo apresenta três exercícios, em que, consoante a manipulação do número de balizas e do guarda-redes, iremos obter resultados diferentes, o que nos leva a concluir que os ganhos ao nível das capacidades físicas necessárias para um jogo de futebol se adquirem, única e simplesmente, jogando.

No primeiro exercício, jogam duas equipas GR ­+ 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre uma baliza; No segundo exercício jogam duas equipas GR­ + 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre duas balizas; No terceiro exercício, jogam 6x6, com ataque à zona alvo, ou seja, para pontuar, os jogadores têm que passar com a bola controlada sobre a linha de fundo.

No caso, cada jogador envolvido estava na posse de um cardiofrequencímetro, de modo a medir a sua frequência cardíaca ao longo dos exercícios. Foram também definidos 4 patamares de esforço de modo a determinar quanto tempo (em segundos) passaram os jogadores em cada patamar de esforço.




 Média ± Desvio Padrão (X±SD) para as zonas da FC (Segundos)

JR1 (GR+6x6-GR at. uma baliza); JR2(GR+6x6-GR at. duas balizas); JR3 (6x6 at. zona alvo).

Como podemos verificar pelo quadro acima exposto, verificamos que os jogadores passaram mais tempo no patamar número 3, durante o primeiro exercício (GR+6x6+GR) – em que existe, ainda, um regime mais aeróbio; O patamar número 4 (mais anaeróbio) foi alcançado durante mais tempo durante a realização do exercício 2 (GR+6x6+GR, ataque sobre duas balizas) e do exercício 3 (6x6, ataque á zona alvo).

Assim e em conclusão, posso afirmar, que é possível trabalhar as capacidades físicas necessárias para o jogo de futebol, recorrendo a este tipo de exercícios, num ambiente mais agradável para o jogadores, pois estes estão a fazer o que mais gostam, que é jogar, ao mesmo tempo que estão a melhorar as suas capacidades técnicas, pois os exercícios têm sempre presente a bola que dá especificidade ao mesmo.


Nota: Este estudo foi realizado no âmbito da minha tese de Mestrado, cujo título é “Jogos Reduzidos de Futebol - Estudo do comportamento técnico-táctico em jogadores Sub-15, bem como respectiva variação da frequência cardíaca e percepção subjectiva do esforço, em situações de jogo de 6 x 6 com objectivos tácticos diferenciados.”, datada de Julho de 2012.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A Origem do Futebol Espectáculo



Se compararmos um jogo de futebol actual com um jogo de futebol de há 30 anos atrás, apercebemo-nos que existem diferenças enormes, o que, se analisarmos bem as coisas, será normal, dado o crescimento e dimensão que o futebol tem actualmente. Tais diferenças poderão, numa primeira análise, justificar-se pelos interesses económicos que, hoje em dia, gravitam em torno do futebol, pela evolução que se verificou nas metodologias de treino, até à análise exaustiva dos seus mais ínfimos pormenores.
Porém, quando olhamos para um jogo de futebol, o que mais me preocupa é a escassez de talentos, pois é aqui que o futebol começa a perder a sua espetacularidade. Muitos de vós perguntar-se-ão, neste momento, como poderá alguém dizer uma coisa destas, numa era em que temos ao mesmo tempo um Messi e um Cristiano Ronaldo? A resposta é simples: efectivamente, os adeptos de futebol foram abençoados por terem a oportunidade de ver, na mesma década, dois futebolistas com este talento. Porém, ao olharmos para as restantes equipas, deparamo-nos com um fosso tremendo entre as mesmas e que nos seus planteis escasseia o talento individual e o improviso, em particular no futebolista Europeu.
Na nossa opinião, isto deve-se ao facto de, actualmente, as sociedades darem às suas crianças um cada vez maior leque de possibilidades de brincadeiras e diversões, muito diferente daquele que existia há anos atrás. Hoje as crianças não brincam como antes: os videojogos e os computadores assumiram um papel de tal forma importante, que as crianças deixaram de brincar com recurso ao seu corpo, às suas capacidades motoras… O correr, o saltar e o inventar jogos foram substituídos por uma cadeira confortável e um computador.
Lembro-me de na minha infância passar os dias na rua a jogar à bola, sendo que tenho consciência que este quadro seria igual em todo o país e por toda a Europa.
A rua foi, durante muitos anos, “a mãe” dos melhores futebolistas do mundo, onde os mesmos deram os primeiros toques na bola e onde as regras do jogo eram ditadas por eles.
Ao fazer uma pesquisa biográfica encontrei nos vários relatos de futebolistas como Ronaldo, Maradona, Zidane, Pelé, Valdano, Ronaldinho Gaucho, entre outros, que todos deram os seus primeiros passos futebolísticos na rua, sendo que todos referem a importância que este inicio de “carreira” teve para eles na aquisição de técnicas que mais tarde lhes viriam a ser muitíssimo importantes na construção de das carreiras de sucesso que todos conhecemos.
Na rua, não haviam regras, não havia árbitro, nem sequer treinador, mas havia bola e horas livres… Estavam, assim, reunidas todas as condições para se assistir a um “espetáculo” de bola.
O futebol de rua foi e continua a ser muito importante, pois permite aos jovens futebolistas desenvolver qualidades que de outra forma seria impossível. Na rua, o pavimento é sempre diferente, desde terra batida, pavimentos em pedra, cimento e alcatrão; A bola também varia no tamanho e na textura; O número de jogadores não é fixo - normalmente jogam os que estiverem presentes; As balizas são inexistentes, pelo menos no formato padrão. E este jogo, totalmente anárquico, em que cada jogador quer a bola só para si e em que tem de fintar inúmeros adversários para poder fazer golo, permite desenvolver habilidades técnicas que, num contexto com treinador (um mau treinador), seria totalmente impossível, pois este estaria, constantemente, a criticar os seus jogadores, exigindo que os mesmos passassem a bola. Ora, este tipo de acções por parte dos treinadores limita, em muito, a criatividade dos jovens futebolistas.
No que toca ao desenvolvimento motor, a rua dota os jovens futebolistas de aptidões que num contexto em que jogassem num bom relvado, ou num relvado sintético, nunca iriam adquirir, pois o piso irregular e a variação da dimensão e textura da bola, permitem desenvolver sinapses nervosas e escrever uma informação ao nível neuro-muscular, que iria ser extremamente útil, pois, quando num jogo se deparassem com uma situação em que têm de recorrer ao seu talento, fazem-no de forma natural e inconsciente.
Como refere Ronaldinho Gaucho, que, actualmente, é jogador do Atlético de Mineiro (citado por Larcher, 2004): “No meu bairro, em Porto Alegre, passei a infância a jogar à bola. Nunca me separava da bola, driblava, driblava, driblava sem parar. Jogava na rua com os meus colegas, mas também jogava horas sozinho ou com o meu cão. Em minha casa há bolas por todo o lado. Aproveito todas as oportunidades para improvisar um pequeno jogo no jardim ou para me descontrair a fazer habilidades. A bola é a minha melhor companhia, é o objecto que mais amo na vida. Quando chove jogamos com uma bola de ténis na sala. Na minha infância a minha mãe podia proibir-me de quase tudo, inclusive de sair, mas nunca de jogar à bola”.
Como todos sabemos, actualmente, as academias e as escolas de futebol vieram ocupar um papel importante na formação dos jovens futebolistas. Porém, por muito esforço e investimento que haja por parte dos seus gestores e treinadores, nunca conseguirão reproduzir o futebol de rua na sua génese, nem retirar os benefícios dai advenientes… Ainda que utilizem pisos e bolas com diferentes texturas, balizas e campos reduzidos, haverá sempre de faltar coisas tão básicas como o “instinto de sobrevivência” que os jovens adquirem ao jogar à bola na rua, uma vez que, para alguns deles, fazerem carreira no futebol é a única forma de subsistirem e levarem uma vida desafogada.
Ora, é por todos estes motivos que acredito que os futebolistas de amanha – principalmente os Europeus – serão tecnicamente evoluídos, muito inteligentes ao nível da leitura de jogo e do ponto de vista táctico. Porém, a magia do improviso, do arriscar nos confrontos de 1x1, será cada vez mais escasso à medida que o “Futebol de Rua” for desaparecendo.
É a minha convicção, que o melhor futebolista do mundo da próxima década nascerá em alguma favela do Brasil ou da Argentina. 



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Pressing Defensivo Barcelona



Dando continuidade ao post anterior “ Defesa à Zona: Defender Bem para Atacar Melhor”, decidi postar este vídeo que reflecte bem a minha maneira de interpretar o jogo e como devem as equipas defender.
            Prestando atenção logo à primeira perdida de bola, vemos os jogadores do Barcelona a procurar pressionar o detentor da bola e fechar as linhas de passe circundantes, existindo, também, a preocupação de toda a equipa em encurtar espaços em torno do centro de jogo, no sentido de fazerem o “campo pequeno”, retirarem tempo e espaço ao adversário que detém a posse de bola, obrigando-o a decidir rápido e neste caso mal, pois o jogador acabou por fazer um passe para fora do terreno de jogo.
            Todo o vídeo mostra que os jogadores do Barcelona, imediatamente à perdida da bola, pressionam de forma agressiva o portador da bola, normalmente em superioridade numérica e havendo sempre, por parte de toda a equipa, a preocupação em fechar as linhas de passe. Podemos, assim, verificar que este tipo de acções ocorre em todas as zonas do campo onde o Barcelona perde a bola. 
            Actualmente e como regra geral, as equipas de topo têm este tipo de comportamento perante uma perda de bola, sendo um comportamento típico de quem gosta de assumir o jogo e de ter a posse da bola. Naturalmente e porque está na sua génese, quando este tipo de equipa perde a bola, reúnem esforços no sentido de a recuperar o mais rapidamente possível. 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Defesa à zona : Defender Bem Para Atacar Melhor




Ainda hoje, ao vermos jogos de futebol, e falo mesmo em campeonatos profissionais como Primeira e Segunda Liga, deparamo-nos com um sem fim de equipas e respectivos jogadores que não dominam conceitos defensivos tão importantes como a Defesa à Zona ou Zona Pressionante.
Já la vai o tempo em que a Defesa Individual era a única maneira que os treinadores e suas equipas encontravam para anular as acções ofensivas do adversário. Está filosofia de pensar o jogo pressupõe que um jogador tem de marcar - como o próprio nome indica - um adversário individualmente e isto acarreta riscos tais como: o jogador marcado arrastar para áreas mais favoráveis o seu marcador, provocando situações de vantagem para a sua equipa.
Não se tardou em perceber que esta forma de defender era muito mais vantajosa para quem ataca do que para quem defende, pois o defesa não mais fazia que perseguir o jogador adversário que o seu treinador indicava.
Como forma de superar esta “dificuldade prática” surge, então, a defesa Homem a Homem, sendo que o objetivo de quem defende passa a ser marcar o jogador que mais próximo de si se encontrar, ou seja, que estiver na sua área de acção. Esta forma de defender, já mais evoluída que a defesa individual, continua a não servir para suprir as necessidades defensivas por parte de quem não se encontra em posse de bola, pois o simples facto do jogador com a posse de bola ter perto de si o elemento da equipa que é responsável por quele espaço defensivo é, por si só, um convite aos jogadores tecnicamente mais evoluídos para procurarem situações de 1x1 e após ultrapassarem o seu opositor, a única coisa com que se deparam é espaço e tempo para decidir! Para quem defende, está lançado o caos.
Sendo o futebol um jogo colectivo com relações de cooperação e de oposição, os dois conceitos supracitados não fazem mais que contrariar a essência do mesmo, pois são formas de ver o jogo que assentam sobretudo em conceitos de individualismo, ou seja, num jogador de forma individual ou num jogador que ocupe uma determinada zona do terreno de jogo.
Um conceito defensivo que vise o controlo dos espaços, do portador da bola, dos espaços circundantes e os jogadores mais próximos do portador da bola, parece-me, então, ser o que melhor se enquadraria num jogo de cariz colectivo.
A importância do controlo dos espaços passa a ser cada vez mais importante, assim como controlar as acções do portador da bola, pois num jogo onde quem possui a bola e a possui durante mais tempo é que tem mais probabilidades de a introduzir na baliza e consequentemente ganhar os jogos. Assim, se o que importa são os espaços e bola, é imperativo criar-se uma defesa que nos permita controlá-los! Surge, assim, a Defesa à Zona.
Porém, deparam-nos com equipas que ainda não dominam este conceito e cada vez que surge um jogador no seu raio de acção, a tendência é estar mais perto deste e estar mais atento ao adversário que à bola. Esta tendência é tanto mais visível quanto mais perto da sua própria baliza os jogadores em acção defensiva se encontram.

Ora, parece-nos totalmente errada esta forma de defender, pois trata-se de uma defesa Homem a Homem encapotada.
Considero, então, que numa Defesa à Zona: I) os espaços são a grande referência – alvo marcação; II) a grande preocupação deverá ser fechar, como equipa, os espaços de jogo mais valiosos (os espaços próximos da bola) para assim condicionar a equipa adversária; III) a posição da bola e, em função desta, a posição dos companheiros são as grandes referências de posicionamento; IV) cada jogador, de forma coordenada com os companheiros, deve fechar diferentes espaços, de acordo com a posição da bola; V) a existência permanente de um sistema de coberturas sucessivas é um aspecto vital, o qual se consegue através do escalonamento das diferentes linhas; VI) é importante pressionar o portador da bola para este se ver condicionado em termos de tempo e espaço para pensar e executar; VII) uma ocupação cuidada e inteligente dos espaços mais valiosos que permite, por consequência, controlar os adversários com bola; VIII) por fim, qualquer marcação próxima a um adversário sem bola é sempre circunstancial e consequência dessa mesma ocupação racional do espaço.
Posto isto, podemos concluir que Defender à Zona, trata-se de conseguir um padrão defensivo colectivo, assente em sucessivas coberturas defensivas, permutas posicionais, dobras, basculações defensivas, encurtamentos de espaços em profundidade, entre outras acções defensivas colectivas.
Reconhecemos que esta é uma forma complexa de defender mas também dinâmica, adaptativa compacta, homogénea e solidária. Esta forma de defender estimula em muito o trabalho de equipa, solidariedade entre companheiros e entreajuda, questões de extrema importância para se ter sucesso numa modalidade colectiva, onde se pretende que a força da equipa seja sempre superior à unidade, ao individual.
Relacionada com a criação de superioridade numérica e o constrangimento espaço-temporal está também, para além da Defesa à Zona, o pressing. Este novo conceito vem acrescentar agressividade à zona, o que provocou uma mudança importante. A este novo conceito dá-se o nome de zona pressionante ou pressing, que, como o próprio nome indica, determina que a zona pressing vai permitir a equipa determinar em que zona do terreno de jogo vão exercer mais pressão sobre o portador da bola no sentido de a recuperar num tempo e espaço de jogo que mais lhe possa interessar, para em seguida poder atacar a baliza adversária. Deve-se empregar muita agressividade para recuperar a bola mal esta entre nos terrenos que a equipa tem como determinantes para a recuperar. Porém, essa agressividade deve ser sempre sobre a bola e nunca sobre o adversário, pois nesse caso, estaremos a infringir as leis do jogo e, consequentemente, será marcada falta e não recuperamos a posse de bola como é intenção.
As equipas de elite não perdem mais tempo a treinar as acções ofensivas que as defensivas, fazem-no nas mesmas proporções, pois os seus treinadores não dissociam os dois momentos do jogo “atacar e defender” e, na minha opinião, são mesmo indissociáveis, pois a equipa é um todo e o seu funcionamento é feito num todo também.
Esta forma de defender e de olhar o jogo na sua globalidade é a que aproxima mais as equipas de diferente valor, ou seja, diminui o fosso entre equipas grandes e pequenas, pois só jogando como os grandes clubes jogam se poderá encurtar as distâncias entre clubes grandes e pequenos, no que à qualidade de jogo diz respeito.

domingo, 14 de outubro de 2012

Jogos Reduzidos em futebol




Jogos Reduzidos em futebol – um olhar sobre o treino das capacidades físicas e técnico-tacticas.




O futebol é caracterizado como sendo um Jogo Desportivo Colectivo (JDC), assim como o Basquetebol, Andebol e o Rugby, no qual os seus intervenientes – jogadores – estão agrupados em duas equipas diferentes numa relação de oposição e cooperação, originando uma luta intensa pela conquista da posse da bola com o intuito de, para obtenção da vitória, introduzi-la o maior número de vezes possível na baliza do adversário e evitar que esta entre na sua própria baliza (Castelo, 2004).
O futebol é considerado o mais imprevisível e aleatório jogo entre os vários JDC. Esta imprevisibilidade advém de diversos factores tais como o envolvimento complexo e aberto entre jogadores, o seu elevado número, a dimensão do campo e, ainda, a duração do jogo (Costa, Garganta, Fonseca & Botelho, 2002).
O treino que visa melhorar a performance do futebolista é um processo complexo, dado que nesta modalidade desportiva interagem vários factores – tácticos, técnicos, físicos e psicológicos (Castelo, 2002; Ramos, 2003; Soares, 2005; Tavares, 1993) – que se interrelacionam e condicionam o jogo da equipa, originando que, e de acordo com Santos e Soares (2001) e Svensson e Drust (2005), se exija aos jogadores elevados e constantes níveis de desempenho.
No plano energético-funcional o futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo (Aroso, 2003; Rebelo, 1993; Reilly, 2005). No entanto, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994).
No plano táctico, o futebol caracteriza-se por produzir relações de cooperação/oposição alicerçadas nos aspectos estratégicos e tácticos do jogo cimentados entre colegas e adversários (Garganta & Pinto, 1998; Gréhaigne, Godbout, & Bouthier, 1997; Moreno, 1984; Ramos, 2003; Tavares, 1993). Efectivamente, é nos JDC que a táctica atinge o seu expoente máximo de expressão (Garganta, 1997). Queirós (1986) e Teodorusco (1984) referem a importância do desenvolvimento da táctica, pois, segundo estes dois autores, é essencialmente táctico o maior problema dos praticantes dos JDC.
Nesta perspectiva, as relações que advêm da prática do Futebol, quer sejam estas de oposição ou cooperação, reclamam aos jogadores comportamentos congruentes com as sucessivas situações de jogo (Garganta & Pinto, 1998). Em situações de oposição, os jogadores devem coordenar acções para garantir a recuperação da bola, conservando a mesma e transportando-a para a zona de finalização da equipa contrária, onde devem procurar finalizar (Grehaigne et al., 1997).
Assim sendo, autores como Drust e Jones (2006) e Little e Williams (2006) atribuem considerável importância aos Jogos Reduzidos (JR) como sendo uma metodologia eficiente no que diz respeito ao aproveitamento do tempo de treino. Owen, Twist e Ford (2004) referem que os JR devem ser amplamente utilizados no treino de Futebol, pois permitem aos jogadores vivenciar situações reais de jogo, podendo melhorar os seus aspectos técnicos, tácticos e fisiológicos (Drust & Jones, 2006; Owen et al. 2004; Tessitore, Meeusen, Piacentini, Demarie & Capranica, 2006). De encontro a esta tese vão os entendimentos perpetrados por Dellal, Chamari, Pintus, Girard, Cotte & Keller, (2008); Gabbett & Mulvey, (2008); e Owen et al. (2004).
A utilização dos JR permite desenvolver simultaneamente as capacidades técnico-tácticas e a tomada de decisão. Actualmente é frequente utilizar os JR para melhorar a aptidão aeróbia. Com efeito, tornou-se usual ver elementos do corpo técnico – e até jogadores – com várias bolas em redor do campo onde decorre o exercício, prontos a introduzir uma bola em campo mal saia a que está em jogo com o intuito de maximizar o tempo útil do exercício/jogo (Gabbett & Mulvey, 2008; Hill-Haas, Coutts, Rowsell & Dawson, 2008; Owen et al., 2004; Rampinini, Impellizzeri, Castagna, Abt, Chamari, Sassi & Marcora, 2007).
Com vista a melhorar os aspectos tácticos, os treinadores têm vindo a utilizar cada vez mais os JR, atento o facto de estes facilitarem a organização do treino e promoverem uma melhor aprendizagem (Castelo, 2002; Cook & Shoulder, 2006; Ramos, 2003). A utilização dos JR permite aos jogadores a participação numa competição reduzida e simplificada. O contacto permanente com a bola é igualmente de fulcral importância por constituir condição básica de melhoria da capacidade técnica (Piñar, Cárdenas, Alarcón, Escobar e Torre, 2009).
A presença permanente da bola nos JR confere-lhes especificidade, melhorando os aspectos tácticos e técnicos com elevados níveis de motivação por parte dos jogadores (Sampaio, Abrantes & Leite, 2009, Dellal et al. 2008).
Cook e Shoulder (2006) atribuem à diminuição do espaço um aumento das dificuldades técnicas e tácticas para os jogadores. Segundo os referidos autores, tendo menos espaço há também menos tempo para pensar e executar as acções solicitadas a cada situação do jogo. Assim, por oposição, o aumento do espaço de jogo implica um aumento de tempo para os jogadores executarem e darem melhores respostas às acções técnico-tácticas requeridas a cada momento do jogo.
Castelo (2003) defende que os JR são métodos de ensino/treino do jogo que oferecem a possibilidade de treinar situações de ataque e de defesa de forma contextualizada, através das quais se podem manipular as condicionantes estruturais do exercício. Assim se compatibilizam os diferentes graus de complexidade que derivam da lógica interna do jogo em função das capacidades iniciais do jogador nos seus diferentes níveis de formação e dos objectivos traçados a curto e longo prazo.
Verificamos, então, que a importância que assumem os JR no processo de treino é cada vez maior, sendo estes utilizados com mais frequência pelos treinadores para promover a melhoria de capacidades técnicas, tácticas e as capacidades motoras dos jogadores predominantes em cada JDC (Gabbet & Mulvey, 2008).
Com a utilização dos JR como exercícios de treino é possível manipular a intensidade do esforço com a alteração de algumas das características do jogo, tais como a área de jogo, o número de jogadores, as regras, o número e duração das séries, a duração total da sessão, a presença de guarda-redes e o incentivo do treinador (Dellal et al., 2008; Hill-Haas, Dawson, Coutts & Rowsell, 2009; Rampinini et al., 2007). Verificam-se, assim, alterações fisiológicas, nomeadamente na Frequência Cardíaca (FC), na concentração de lactato e na percepção subjectiva de esforço.
Segundo Castelo (2002), a diminuição do espaço provoca um aumento das dificuldades dos jogadores, pois os mesmos têm que concretizar os objectivos do exercício num período de tempo mais reduzido.
Segundo Hill-Haas et al. (2009), a manipulação do tamanho do campo – com a redução das suas dimensões – produz uma maior resposta do débito cardíaco com o consequente aumento da intensidade de esforço. O treinador tem ao seu dispor uma ferramenta – Jogos Reduzidos – que lhe permite melhorar a aptidão aeróbia dos jogadores de futebol (Helgerud, Engen, Wisløff & Hoff, 2001; Hill-Haas et al., 2009; Impellizzeri, Marcora, Castagna, Reilly, Sassi, Iaia & Rampinini, 2006) num ambiente mais agradável que os métodos considerados tradicionais.
Rampinini, et al. (2007) referem que, se o treinador usar diferentes combinações dos constrangimentos do treino (dimensões do campo, número de jogadores, incentivo do técnico), pode modular a intensidade do exercício dentro da zona de alta intensidade, controlando, assim, o estímulo do treino.
A utilização dos JR é uma forma eficaz de trabalhar a capacidade aeróbia dos atletas em simultâneo com o treino específico das capacidades técnico-tácticas dos mesmos – Impellizzeri et al. (2006) e Nunes (2010).
Segundo Impellizzeri et al. (2006), os JR revelam-se um instrumento extremamente vantajoso no treino de jovens jogadores, pois a melhoria das competências específicas de cada modalidade está relacionada com a frequência com que se executam os gestos técnicos específicos.
Desta forma, conclui-se que a manipulação das variáveis (número de jogadores, dimensões do campo, regras utilizadas, incentivo do treinador, presença de guarda-redes e o número de balizas) produz um impacto fisiológico na resposta da FC e na Percepção Subjectiva de Esforço (PSE). Assim sendo, o controlo da intensidade do exercício, durante o treino de futebol, pode fornecer informação pertinente ao treinador (Coutts, Rampinini, Marcora, Castagna & Impellizzeri, 2007).
A monitorização da FC assume-se como um excelente indicador na regulação da intensidade do esforço (Reilly, 2007), já que é um parâmetro de avaliação metodológica de fácil execução fornecendo informação ao longo de todo o exercício (Hill-Haas et al., 2008). A referida monitorização permite ainda quantificar a carga interna do jogador e definir com mais rigor a intensidade do treino (Bangsbo,1994), avaliando-se, assim, do cumprimento ou não dos respectivos objectivos.
Um estudo efectuado por Sampaio et al. (2009) revela que os JR 3x3 e 4x4 podem ser usados para o treino aeróbio, em virtude de induzirem uma resposta da FC acima dos 80% da Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx).
Num estudo efectuado por Hill-Haas et al. (2009) em jovens jogadores, identificou-se que o aumento do terreno de jogo e número de jogadores diminuía a frequência cardíaca. Os autores verificaram igualmente que, por oposição, a diminuição do número de jogadores e do terreno de jogo implica um aumento da resposta da FC e da intensidade do exercício.
A reforçar esta tese está Allen et al. (1998) referindo que nos JR 5x5 a resposta da frequência cardíaca é geralmente superior à apresentada em jogos de 11x11 e que o número de jogadores, bem como a presença – ou não – de guarda-redes (GR) influencia a resposta da FC durante os exercícios.
Para haver alterações fisiológicas significativas ao nível da resposta da FC, a diminuição das dimensões do campo tem que ser acompanhada duma diminuição do número de jogadores (Kelly e Drust, 2008). A presença de GR nos exercícios de JR faz aumentar os níveis de motivação dos jogadores, provocando um impacto fisiológico ao nível da resposta cardíaca, com o aumento desta (Dellal et al, 2008).
Assim após esta revisão da literatura e da execução de alguns estudos dentro desta temática, estamos em condições de afirmar que a utilização dos jogos reduzidos no processo de treino de uma equipa de futebol é um instrumento extremamente válido, pois desde que, bem manipulados constrangimentos como, área de jogo, número de jogadores envolvidos, intensidade e duração, instrução do treinador, entre outros, podemos obter melhorias das capacidades físicas e das capacidades técnico-tacticas num ambiente mais agradável e próximas do que são as necessidades reais do Jogo de futebol.