segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Proposta de Trabalho das Capacidades Físicas em Futebol


Durante anos, as capacidades físicas dos atletas praticantes dos denominados Jogos Desportivos Colectivos, como o futebol, eram trabalhadas de forma isolada e, para isso, os treinadores utilizavam métodos provenientes de modalidades individuais como o atletismo, onde a investigação do treino das capacidades físicas aparece muito antes do que nas modalidades individuais.
Um dos métodos mais utilizados era o “Método Fartlek”, originário da Suécia, que significa jogo de velocidade. Este método baseia-se em exercícios de corrida de forma aeróbia e anaeróbia e a base do mesmo é a existência de mudanças de velocidade ou a introdução de rimos com aceleração durante um determinado período de tempo. O objectivo deste método é a preparação dos atletas para estarem na sua máxima forma física na altura das competições.
Porém, surge-me uma dúvida na utilização deste método: Será possível definir picos de forma para 24 ou 25 jogadores – número de jogadores que normalmente compõe uma equipa de futebol – em que cada um deles tem características físicas diferentes? 

Creio que a resposta a esta minha dúvida é negativa, uma vez que, o futebol tal como as outras modalidades desportivas colectivas, aprendem-se e treinam-se a jogar, sendo que o “segredo” estará em decompor o jogo em formas mais simples, permitindo assim que a sua aprendizagem seja mais fácil.

No plano energético-funcional o futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo ou aeróbio (Aroso, 2003; Rebelo, 1993; Reilly, 2005). No entanto, da minha análise, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994).

A proposta de resolução desta questão que apresento é a seguinte: Treinar as capacidades físicas maioritariamente utilizadas durante um jogo de futebol, mas de uma forma mais agradável para os jogadores e mais de encontro às necessidades que os mesmos encontram no jogo.

De uma forma prática: A figura abaixo apresenta três exercícios, em que, consoante a manipulação do número de balizas e do guarda-redes, iremos obter resultados diferentes, o que nos leva a concluir que os ganhos ao nível das capacidades físicas necessárias para um jogo de futebol se adquirem, única e simplesmente, jogando.

No primeiro exercício, jogam duas equipas GR ­+ 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre uma baliza; No segundo exercício jogam duas equipas GR­ + 6x6 + GR, em que cada equipa ataca sobre duas balizas; No terceiro exercício, jogam 6x6, com ataque à zona alvo, ou seja, para pontuar, os jogadores têm que passar com a bola controlada sobre a linha de fundo.

No caso, cada jogador envolvido estava na posse de um cardiofrequencímetro, de modo a medir a sua frequência cardíaca ao longo dos exercícios. Foram também definidos 4 patamares de esforço de modo a determinar quanto tempo (em segundos) passaram os jogadores em cada patamar de esforço.




 Média ± Desvio Padrão (X±SD) para as zonas da FC (Segundos)

JR1 (GR+6x6-GR at. uma baliza); JR2(GR+6x6-GR at. duas balizas); JR3 (6x6 at. zona alvo).

Como podemos verificar pelo quadro acima exposto, verificamos que os jogadores passaram mais tempo no patamar número 3, durante o primeiro exercício (GR+6x6+GR) – em que existe, ainda, um regime mais aeróbio; O patamar número 4 (mais anaeróbio) foi alcançado durante mais tempo durante a realização do exercício 2 (GR+6x6+GR, ataque sobre duas balizas) e do exercício 3 (6x6, ataque á zona alvo).

Assim e em conclusão, posso afirmar, que é possível trabalhar as capacidades físicas necessárias para o jogo de futebol, recorrendo a este tipo de exercícios, num ambiente mais agradável para o jogadores, pois estes estão a fazer o que mais gostam, que é jogar, ao mesmo tempo que estão a melhorar as suas capacidades técnicas, pois os exercícios têm sempre presente a bola que dá especificidade ao mesmo.


Nota: Este estudo foi realizado no âmbito da minha tese de Mestrado, cujo título é “Jogos Reduzidos de Futebol - Estudo do comportamento técnico-táctico em jogadores Sub-15, bem como respectiva variação da frequência cardíaca e percepção subjectiva do esforço, em situações de jogo de 6 x 6 com objectivos tácticos diferenciados.”, datada de Julho de 2012.

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