domingo, 14 de outubro de 2012

Jogos Reduzidos em futebol




Jogos Reduzidos em futebol – um olhar sobre o treino das capacidades físicas e técnico-tacticas.




O futebol é caracterizado como sendo um Jogo Desportivo Colectivo (JDC), assim como o Basquetebol, Andebol e o Rugby, no qual os seus intervenientes – jogadores – estão agrupados em duas equipas diferentes numa relação de oposição e cooperação, originando uma luta intensa pela conquista da posse da bola com o intuito de, para obtenção da vitória, introduzi-la o maior número de vezes possível na baliza do adversário e evitar que esta entre na sua própria baliza (Castelo, 2004).
O futebol é considerado o mais imprevisível e aleatório jogo entre os vários JDC. Esta imprevisibilidade advém de diversos factores tais como o envolvimento complexo e aberto entre jogadores, o seu elevado número, a dimensão do campo e, ainda, a duração do jogo (Costa, Garganta, Fonseca & Botelho, 2002).
O treino que visa melhorar a performance do futebolista é um processo complexo, dado que nesta modalidade desportiva interagem vários factores – tácticos, técnicos, físicos e psicológicos (Castelo, 2002; Ramos, 2003; Soares, 2005; Tavares, 1993) – que se interrelacionam e condicionam o jogo da equipa, originando que, e de acordo com Santos e Soares (2001) e Svensson e Drust (2005), se exija aos jogadores elevados e constantes níveis de desempenho.
No plano energético-funcional o futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo (Aroso, 2003; Rebelo, 1993; Reilly, 2005). No entanto, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994).
No plano táctico, o futebol caracteriza-se por produzir relações de cooperação/oposição alicerçadas nos aspectos estratégicos e tácticos do jogo cimentados entre colegas e adversários (Garganta & Pinto, 1998; Gréhaigne, Godbout, & Bouthier, 1997; Moreno, 1984; Ramos, 2003; Tavares, 1993). Efectivamente, é nos JDC que a táctica atinge o seu expoente máximo de expressão (Garganta, 1997). Queirós (1986) e Teodorusco (1984) referem a importância do desenvolvimento da táctica, pois, segundo estes dois autores, é essencialmente táctico o maior problema dos praticantes dos JDC.
Nesta perspectiva, as relações que advêm da prática do Futebol, quer sejam estas de oposição ou cooperação, reclamam aos jogadores comportamentos congruentes com as sucessivas situações de jogo (Garganta & Pinto, 1998). Em situações de oposição, os jogadores devem coordenar acções para garantir a recuperação da bola, conservando a mesma e transportando-a para a zona de finalização da equipa contrária, onde devem procurar finalizar (Grehaigne et al., 1997).
Assim sendo, autores como Drust e Jones (2006) e Little e Williams (2006) atribuem considerável importância aos Jogos Reduzidos (JR) como sendo uma metodologia eficiente no que diz respeito ao aproveitamento do tempo de treino. Owen, Twist e Ford (2004) referem que os JR devem ser amplamente utilizados no treino de Futebol, pois permitem aos jogadores vivenciar situações reais de jogo, podendo melhorar os seus aspectos técnicos, tácticos e fisiológicos (Drust & Jones, 2006; Owen et al. 2004; Tessitore, Meeusen, Piacentini, Demarie & Capranica, 2006). De encontro a esta tese vão os entendimentos perpetrados por Dellal, Chamari, Pintus, Girard, Cotte & Keller, (2008); Gabbett & Mulvey, (2008); e Owen et al. (2004).
A utilização dos JR permite desenvolver simultaneamente as capacidades técnico-tácticas e a tomada de decisão. Actualmente é frequente utilizar os JR para melhorar a aptidão aeróbia. Com efeito, tornou-se usual ver elementos do corpo técnico – e até jogadores – com várias bolas em redor do campo onde decorre o exercício, prontos a introduzir uma bola em campo mal saia a que está em jogo com o intuito de maximizar o tempo útil do exercício/jogo (Gabbett & Mulvey, 2008; Hill-Haas, Coutts, Rowsell & Dawson, 2008; Owen et al., 2004; Rampinini, Impellizzeri, Castagna, Abt, Chamari, Sassi & Marcora, 2007).
Com vista a melhorar os aspectos tácticos, os treinadores têm vindo a utilizar cada vez mais os JR, atento o facto de estes facilitarem a organização do treino e promoverem uma melhor aprendizagem (Castelo, 2002; Cook & Shoulder, 2006; Ramos, 2003). A utilização dos JR permite aos jogadores a participação numa competição reduzida e simplificada. O contacto permanente com a bola é igualmente de fulcral importância por constituir condição básica de melhoria da capacidade técnica (Piñar, Cárdenas, Alarcón, Escobar e Torre, 2009).
A presença permanente da bola nos JR confere-lhes especificidade, melhorando os aspectos tácticos e técnicos com elevados níveis de motivação por parte dos jogadores (Sampaio, Abrantes & Leite, 2009, Dellal et al. 2008).
Cook e Shoulder (2006) atribuem à diminuição do espaço um aumento das dificuldades técnicas e tácticas para os jogadores. Segundo os referidos autores, tendo menos espaço há também menos tempo para pensar e executar as acções solicitadas a cada situação do jogo. Assim, por oposição, o aumento do espaço de jogo implica um aumento de tempo para os jogadores executarem e darem melhores respostas às acções técnico-tácticas requeridas a cada momento do jogo.
Castelo (2003) defende que os JR são métodos de ensino/treino do jogo que oferecem a possibilidade de treinar situações de ataque e de defesa de forma contextualizada, através das quais se podem manipular as condicionantes estruturais do exercício. Assim se compatibilizam os diferentes graus de complexidade que derivam da lógica interna do jogo em função das capacidades iniciais do jogador nos seus diferentes níveis de formação e dos objectivos traçados a curto e longo prazo.
Verificamos, então, que a importância que assumem os JR no processo de treino é cada vez maior, sendo estes utilizados com mais frequência pelos treinadores para promover a melhoria de capacidades técnicas, tácticas e as capacidades motoras dos jogadores predominantes em cada JDC (Gabbet & Mulvey, 2008).
Com a utilização dos JR como exercícios de treino é possível manipular a intensidade do esforço com a alteração de algumas das características do jogo, tais como a área de jogo, o número de jogadores, as regras, o número e duração das séries, a duração total da sessão, a presença de guarda-redes e o incentivo do treinador (Dellal et al., 2008; Hill-Haas, Dawson, Coutts & Rowsell, 2009; Rampinini et al., 2007). Verificam-se, assim, alterações fisiológicas, nomeadamente na Frequência Cardíaca (FC), na concentração de lactato e na percepção subjectiva de esforço.
Segundo Castelo (2002), a diminuição do espaço provoca um aumento das dificuldades dos jogadores, pois os mesmos têm que concretizar os objectivos do exercício num período de tempo mais reduzido.
Segundo Hill-Haas et al. (2009), a manipulação do tamanho do campo – com a redução das suas dimensões – produz uma maior resposta do débito cardíaco com o consequente aumento da intensidade de esforço. O treinador tem ao seu dispor uma ferramenta – Jogos Reduzidos – que lhe permite melhorar a aptidão aeróbia dos jogadores de futebol (Helgerud, Engen, Wisløff & Hoff, 2001; Hill-Haas et al., 2009; Impellizzeri, Marcora, Castagna, Reilly, Sassi, Iaia & Rampinini, 2006) num ambiente mais agradável que os métodos considerados tradicionais.
Rampinini, et al. (2007) referem que, se o treinador usar diferentes combinações dos constrangimentos do treino (dimensões do campo, número de jogadores, incentivo do técnico), pode modular a intensidade do exercício dentro da zona de alta intensidade, controlando, assim, o estímulo do treino.
A utilização dos JR é uma forma eficaz de trabalhar a capacidade aeróbia dos atletas em simultâneo com o treino específico das capacidades técnico-tácticas dos mesmos – Impellizzeri et al. (2006) e Nunes (2010).
Segundo Impellizzeri et al. (2006), os JR revelam-se um instrumento extremamente vantajoso no treino de jovens jogadores, pois a melhoria das competências específicas de cada modalidade está relacionada com a frequência com que se executam os gestos técnicos específicos.
Desta forma, conclui-se que a manipulação das variáveis (número de jogadores, dimensões do campo, regras utilizadas, incentivo do treinador, presença de guarda-redes e o número de balizas) produz um impacto fisiológico na resposta da FC e na Percepção Subjectiva de Esforço (PSE). Assim sendo, o controlo da intensidade do exercício, durante o treino de futebol, pode fornecer informação pertinente ao treinador (Coutts, Rampinini, Marcora, Castagna & Impellizzeri, 2007).
A monitorização da FC assume-se como um excelente indicador na regulação da intensidade do esforço (Reilly, 2007), já que é um parâmetro de avaliação metodológica de fácil execução fornecendo informação ao longo de todo o exercício (Hill-Haas et al., 2008). A referida monitorização permite ainda quantificar a carga interna do jogador e definir com mais rigor a intensidade do treino (Bangsbo,1994), avaliando-se, assim, do cumprimento ou não dos respectivos objectivos.
Um estudo efectuado por Sampaio et al. (2009) revela que os JR 3x3 e 4x4 podem ser usados para o treino aeróbio, em virtude de induzirem uma resposta da FC acima dos 80% da Frequência Cardíaca Máxima (FCmáx).
Num estudo efectuado por Hill-Haas et al. (2009) em jovens jogadores, identificou-se que o aumento do terreno de jogo e número de jogadores diminuía a frequência cardíaca. Os autores verificaram igualmente que, por oposição, a diminuição do número de jogadores e do terreno de jogo implica um aumento da resposta da FC e da intensidade do exercício.
A reforçar esta tese está Allen et al. (1998) referindo que nos JR 5x5 a resposta da frequência cardíaca é geralmente superior à apresentada em jogos de 11x11 e que o número de jogadores, bem como a presença – ou não – de guarda-redes (GR) influencia a resposta da FC durante os exercícios.
Para haver alterações fisiológicas significativas ao nível da resposta da FC, a diminuição das dimensões do campo tem que ser acompanhada duma diminuição do número de jogadores (Kelly e Drust, 2008). A presença de GR nos exercícios de JR faz aumentar os níveis de motivação dos jogadores, provocando um impacto fisiológico ao nível da resposta cardíaca, com o aumento desta (Dellal et al, 2008).
Assim após esta revisão da literatura e da execução de alguns estudos dentro desta temática, estamos em condições de afirmar que a utilização dos jogos reduzidos no processo de treino de uma equipa de futebol é um instrumento extremamente válido, pois desde que, bem manipulados constrangimentos como, área de jogo, número de jogadores envolvidos, intensidade e duração, instrução do treinador, entre outros, podemos obter melhorias das capacidades físicas e das capacidades técnico-tacticas num ambiente mais agradável e próximas do que são as necessidades reais do Jogo de futebol.

Nenhum comentário:

Postar um comentário