Ainda
hoje, ao vermos jogos de futebol, e falo mesmo em campeonatos profissionais
como Primeira e Segunda Liga, deparamo-nos com um sem fim de equipas e respectivos
jogadores que não dominam conceitos defensivos tão importantes como a Defesa à
Zona ou Zona Pressionante.
Já
la vai o tempo em que a Defesa Individual era a única maneira que os
treinadores e suas equipas encontravam para anular as acções ofensivas do adversário.
Está filosofia de pensar o jogo pressupõe que um jogador tem de marcar - como o
próprio nome indica - um adversário individualmente e isto acarreta riscos tais
como: o jogador marcado arrastar para áreas mais favoráveis o seu marcador,
provocando situações de vantagem para a sua equipa.
Não
se tardou em perceber que esta forma de defender era muito mais vantajosa para
quem ataca do que para quem defende, pois o defesa não mais fazia que perseguir
o jogador adversário que o seu treinador indicava.
Como
forma de superar esta “dificuldade prática” surge, então, a defesa Homem a
Homem, sendo que o objetivo de quem defende passa a ser marcar o jogador que
mais próximo de si se encontrar, ou seja, que estiver na sua área de acção.
Esta forma de defender, já mais evoluída que a defesa individual, continua a
não servir para suprir as necessidades defensivas por parte de quem não se
encontra em posse de bola, pois o simples facto do jogador com a posse de bola
ter perto de si o elemento da equipa que é responsável por quele espaço
defensivo é, por si só, um convite aos jogadores tecnicamente mais evoluídos para
procurarem situações de 1x1 e após ultrapassarem o seu opositor, a única coisa
com que se deparam é espaço e tempo para decidir! Para quem defende, está
lançado o caos.
Sendo
o futebol um jogo colectivo com relações de cooperação e de oposição, os dois
conceitos supracitados não fazem mais que contrariar a essência do mesmo, pois
são formas de ver o jogo que assentam sobretudo em conceitos de individualismo,
ou seja, num jogador de forma individual ou num jogador que ocupe uma
determinada zona do terreno de jogo.
Um
conceito defensivo que vise o controlo dos espaços, do portador da bola, dos
espaços circundantes e os jogadores mais próximos do portador da bola,
parece-me, então, ser o que melhor se enquadraria num jogo de cariz colectivo.
A
importância do controlo dos espaços passa a ser cada vez mais importante, assim
como controlar as acções do portador da bola, pois num jogo onde quem possui a
bola e a possui durante mais tempo é que tem mais probabilidades de a
introduzir na baliza e consequentemente ganhar os jogos. Assim, se o que
importa são os espaços e bola, é imperativo criar-se uma defesa que nos permita
controlá-los! Surge, assim, a Defesa à Zona.
Porém,
deparam-nos com equipas que ainda não dominam este conceito e cada vez que
surge um jogador no seu raio de acção, a tendência é estar mais perto deste e
estar mais atento ao adversário que à bola. Esta tendência é tanto mais visível
quanto mais perto da sua própria baliza os jogadores em acção defensiva se
encontram.
Ora,
parece-nos totalmente errada esta forma de defender, pois trata-se de uma defesa
Homem a Homem encapotada.
Considero,
então, que numa Defesa à Zona: I) os espaços são a grande referência – alvo
marcação; II) a grande preocupação deverá ser fechar, como equipa, os espaços
de jogo mais valiosos (os espaços próximos da bola) para assim condicionar a
equipa adversária; III) a posição da bola e, em função desta, a posição dos
companheiros são as grandes referências de posicionamento; IV) cada jogador, de
forma coordenada com os companheiros, deve fechar diferentes espaços, de acordo
com a posição da bola; V) a existência permanente de um sistema de coberturas
sucessivas é um aspecto vital, o qual se consegue através do escalonamento das
diferentes linhas; VI) é importante pressionar o portador da bola para este se
ver condicionado em termos de tempo e espaço para pensar e executar; VII) uma
ocupação cuidada e inteligente dos espaços mais valiosos que permite, por
consequência, controlar os adversários com bola; VIII) por fim, qualquer
marcação próxima a um adversário sem bola é sempre circunstancial e
consequência dessa mesma ocupação racional do espaço.
Posto
isto, podemos concluir que Defender à Zona, trata-se de conseguir um padrão
defensivo colectivo, assente em sucessivas coberturas defensivas, permutas
posicionais, dobras, basculações defensivas, encurtamentos de espaços em
profundidade, entre outras acções defensivas colectivas.
Reconhecemos
que esta é uma forma complexa de defender mas também dinâmica, adaptativa
compacta, homogénea e solidária. Esta forma de defender estimula em muito o
trabalho de equipa, solidariedade entre companheiros e entreajuda, questões de
extrema importância para se ter sucesso numa modalidade colectiva, onde se
pretende que a força da equipa seja sempre superior à unidade, ao individual.
Relacionada
com a criação de superioridade numérica e o constrangimento espaço-temporal
está também, para além da Defesa à Zona, o pressing.
Este novo conceito vem acrescentar agressividade à zona, o que provocou uma
mudança importante. A este novo conceito dá-se o nome de zona pressionante ou pressing,
que, como o próprio nome indica, determina que a zona pressing vai permitir a equipa determinar em que zona do terreno de
jogo vão exercer mais pressão sobre o portador da bola no sentido de a
recuperar num tempo e espaço de jogo que mais lhe possa interessar, para em
seguida poder atacar a baliza adversária. Deve-se empregar muita agressividade
para recuperar a bola mal esta entre nos terrenos que a equipa tem como
determinantes para a recuperar. Porém, essa agressividade deve ser sempre sobre
a bola e nunca sobre o adversário, pois nesse caso, estaremos a infringir as
leis do jogo e, consequentemente, será marcada falta e não recuperamos a posse
de bola como é intenção.
As
equipas de elite não perdem mais tempo a treinar as acções ofensivas que as
defensivas, fazem-no nas mesmas proporções, pois os seus treinadores não
dissociam os dois momentos do jogo “atacar e defender” e, na minha opinião, são
mesmo indissociáveis, pois a equipa é um todo e o seu funcionamento é feito num
todo também.
Esta
forma de defender e de olhar o jogo na sua globalidade é a que aproxima mais as
equipas de diferente valor, ou seja, diminui o fosso entre equipas grandes e
pequenas, pois só jogando como os grandes clubes jogam se poderá encurtar as
distâncias entre clubes grandes e pequenos, no que à qualidade de jogo diz
respeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário