quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Defesa à zona : Defender Bem Para Atacar Melhor




Ainda hoje, ao vermos jogos de futebol, e falo mesmo em campeonatos profissionais como Primeira e Segunda Liga, deparamo-nos com um sem fim de equipas e respectivos jogadores que não dominam conceitos defensivos tão importantes como a Defesa à Zona ou Zona Pressionante.
Já la vai o tempo em que a Defesa Individual era a única maneira que os treinadores e suas equipas encontravam para anular as acções ofensivas do adversário. Está filosofia de pensar o jogo pressupõe que um jogador tem de marcar - como o próprio nome indica - um adversário individualmente e isto acarreta riscos tais como: o jogador marcado arrastar para áreas mais favoráveis o seu marcador, provocando situações de vantagem para a sua equipa.
Não se tardou em perceber que esta forma de defender era muito mais vantajosa para quem ataca do que para quem defende, pois o defesa não mais fazia que perseguir o jogador adversário que o seu treinador indicava.
Como forma de superar esta “dificuldade prática” surge, então, a defesa Homem a Homem, sendo que o objetivo de quem defende passa a ser marcar o jogador que mais próximo de si se encontrar, ou seja, que estiver na sua área de acção. Esta forma de defender, já mais evoluída que a defesa individual, continua a não servir para suprir as necessidades defensivas por parte de quem não se encontra em posse de bola, pois o simples facto do jogador com a posse de bola ter perto de si o elemento da equipa que é responsável por quele espaço defensivo é, por si só, um convite aos jogadores tecnicamente mais evoluídos para procurarem situações de 1x1 e após ultrapassarem o seu opositor, a única coisa com que se deparam é espaço e tempo para decidir! Para quem defende, está lançado o caos.
Sendo o futebol um jogo colectivo com relações de cooperação e de oposição, os dois conceitos supracitados não fazem mais que contrariar a essência do mesmo, pois são formas de ver o jogo que assentam sobretudo em conceitos de individualismo, ou seja, num jogador de forma individual ou num jogador que ocupe uma determinada zona do terreno de jogo.
Um conceito defensivo que vise o controlo dos espaços, do portador da bola, dos espaços circundantes e os jogadores mais próximos do portador da bola, parece-me, então, ser o que melhor se enquadraria num jogo de cariz colectivo.
A importância do controlo dos espaços passa a ser cada vez mais importante, assim como controlar as acções do portador da bola, pois num jogo onde quem possui a bola e a possui durante mais tempo é que tem mais probabilidades de a introduzir na baliza e consequentemente ganhar os jogos. Assim, se o que importa são os espaços e bola, é imperativo criar-se uma defesa que nos permita controlá-los! Surge, assim, a Defesa à Zona.
Porém, deparam-nos com equipas que ainda não dominam este conceito e cada vez que surge um jogador no seu raio de acção, a tendência é estar mais perto deste e estar mais atento ao adversário que à bola. Esta tendência é tanto mais visível quanto mais perto da sua própria baliza os jogadores em acção defensiva se encontram.

Ora, parece-nos totalmente errada esta forma de defender, pois trata-se de uma defesa Homem a Homem encapotada.
Considero, então, que numa Defesa à Zona: I) os espaços são a grande referência – alvo marcação; II) a grande preocupação deverá ser fechar, como equipa, os espaços de jogo mais valiosos (os espaços próximos da bola) para assim condicionar a equipa adversária; III) a posição da bola e, em função desta, a posição dos companheiros são as grandes referências de posicionamento; IV) cada jogador, de forma coordenada com os companheiros, deve fechar diferentes espaços, de acordo com a posição da bola; V) a existência permanente de um sistema de coberturas sucessivas é um aspecto vital, o qual se consegue através do escalonamento das diferentes linhas; VI) é importante pressionar o portador da bola para este se ver condicionado em termos de tempo e espaço para pensar e executar; VII) uma ocupação cuidada e inteligente dos espaços mais valiosos que permite, por consequência, controlar os adversários com bola; VIII) por fim, qualquer marcação próxima a um adversário sem bola é sempre circunstancial e consequência dessa mesma ocupação racional do espaço.
Posto isto, podemos concluir que Defender à Zona, trata-se de conseguir um padrão defensivo colectivo, assente em sucessivas coberturas defensivas, permutas posicionais, dobras, basculações defensivas, encurtamentos de espaços em profundidade, entre outras acções defensivas colectivas.
Reconhecemos que esta é uma forma complexa de defender mas também dinâmica, adaptativa compacta, homogénea e solidária. Esta forma de defender estimula em muito o trabalho de equipa, solidariedade entre companheiros e entreajuda, questões de extrema importância para se ter sucesso numa modalidade colectiva, onde se pretende que a força da equipa seja sempre superior à unidade, ao individual.
Relacionada com a criação de superioridade numérica e o constrangimento espaço-temporal está também, para além da Defesa à Zona, o pressing. Este novo conceito vem acrescentar agressividade à zona, o que provocou uma mudança importante. A este novo conceito dá-se o nome de zona pressionante ou pressing, que, como o próprio nome indica, determina que a zona pressing vai permitir a equipa determinar em que zona do terreno de jogo vão exercer mais pressão sobre o portador da bola no sentido de a recuperar num tempo e espaço de jogo que mais lhe possa interessar, para em seguida poder atacar a baliza adversária. Deve-se empregar muita agressividade para recuperar a bola mal esta entre nos terrenos que a equipa tem como determinantes para a recuperar. Porém, essa agressividade deve ser sempre sobre a bola e nunca sobre o adversário, pois nesse caso, estaremos a infringir as leis do jogo e, consequentemente, será marcada falta e não recuperamos a posse de bola como é intenção.
As equipas de elite não perdem mais tempo a treinar as acções ofensivas que as defensivas, fazem-no nas mesmas proporções, pois os seus treinadores não dissociam os dois momentos do jogo “atacar e defender” e, na minha opinião, são mesmo indissociáveis, pois a equipa é um todo e o seu funcionamento é feito num todo também.
Esta forma de defender e de olhar o jogo na sua globalidade é a que aproxima mais as equipas de diferente valor, ou seja, diminui o fosso entre equipas grandes e pequenas, pois só jogando como os grandes clubes jogam se poderá encurtar as distâncias entre clubes grandes e pequenos, no que à qualidade de jogo diz respeito.

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