O
scouting e a detecção de novos talentos é cada vez mais, nos dias de hoje, uma
área em crescendo no panorama futebolístico nacional. As áreas de observação e
recrutamento de futebolistas e jovens futebolistas são cada vez mais vastas,
chegando-nos atletas de todas as partes do globo.
A
diversidade é, quanto a mim, um aspecto de valor incalculável. Termos jogadores
provenientes dos quatro cantos do mundo é uma mais-valia, pois trazem consigo
diferenças próprias e únicas dos seus locais de origem que enriquecem o nosso
futebol. Porém, este recrutamento é feito cada vez mais cedo, a detecção de
talentos é cada vez mais precoce. João Barnabé
refere que: “Os medíocres atrasam o desenvolvimento dos
jovens. O scouting está tão desenvolvido que os clubes compram o pintainho
ainda antes deste sair do ovo. Normalmente fora do país”. Esta visão
é partilhada por mim, pois creio que o recrutamento precoce, tirando as
crianças da guarda dos pais, tirando-os da sua zona de conforto, poderá levar a
que muitos destes se "percam".
No
entanto e como gosto sempre de questionar o porquê das coisas, pergunto-me em
que medida e em que quantidades devemos recrutar fora de portas? Não deveremos
olhar primeiro para dentro na hora de recrutar (o futuro da selecção depende do
recrutamento de jogadores nacionais)? Não haverá uma idade mínima para retirar
as crianças da guarda dos pais?
Hoje
os responsáveis pela detecção de talentos procuram ver características nos
jovens atletas que se destaquem dos demais, nomeadamente a capacidade que estes
têm de perceber o jogo (factor táctico), factores antropométricos, factores
condicionais (Velocidade, força, resistência), factores e perfil psicológico,
capacidade coordenativa e técnica, relacionamento com os colegas e treinadores.
Como bem se compreenderá, estes são alguns aspectos importantes para que um
determinado jogador chame a atenção de quem anda à procura de novos talentos. Depois,
quem observa, tem de possuir a sensibilidade necessária para tentar visualizar
se aquele atleta que se está a observar tem as qualidades necessárias para
integrar a equipa para a qual este esta a fazer observação, se fará a diferença
na mesma ou se será apenas mais um.
Neste
contexto, creio que os jogadores que são observados devem ser alvo de várias
observações, em diferentes contextos (jogos em casa e fora, em ambientes mais
hostis e jogos de grande importância para a sua equipa), que quando chamados a
prestar provas, estas devem ser de largos períodos e não apenas de um ou dois
treinos, que mesmo que naquele momento não tenham condições de ficar devem
continuar a ser observados e chamados a prestar provas periodicamente de modo a
monitorizar-se e avaliar a sua evolução, que se deve valorizar uma ou outra
característica e não colocar totalmente de parte o jovem jogador só pelo facto
de naquele momento não se enquadrar dentro do padrão (veja-se o exemplo de Batistuta:
este era uma criança com excesso de peso, Bielsa viu nele o grande goleador que
mais tarde se revelaria).
Pergunto-me
se não se deveria recrutar jogadores que se enquadrem no modelo de jogo, se não
deveria existir um modelo de jogador que o clube pretende? Se não deveria haver
por parte dos clubes um modelo de recrutamento bem definido e assente na
cultura do clube? Normalmente recrutam-se os que mais se destacam na idade e no
meio onde estão inseridos deixando para trás outros que pelo seu perfil se
enquadrariam melhor no clube. O recrutamento deveria obedecer sempre a uma ideia
de jogo e de jogador que o clube tem, que sejam jogadores capazes de atingir a
equipa principal e não apenas obter vitórias nas fazes mais baixas do seu
percurso desportivo. Para tal, o clube deve ter um modelo que vise formar
jogadores para alimentar o plantel principal e não apenas ter bons resultados
(vitórias) na base.
Estas
são apenas algumas questões que proponho que sejam alvo de reflexão.
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