Nos
últimos dias muito se tem falado se o Sporting está ou não apto para defrontar
o Benfica. O motivo da divisão reside no facto de o Sporting, que teve jogo
para a Liga Europa na Sexta-feira passada, voltaria a jogar contra o Benfica na
Segunda-feira seguinte. Este é um tema que carrega em si alguma discórdia. O
que me proponho, mais uma vez, não é trazer a público mais uma “receita” do que
deve ser feito ou como deve ser feito, apenas pretendo partilhar uma visão de
como se pode tratar esta questão tão importante para o treino de qualquer
modalidade desportiva.
No plano energético-funcional o
futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que
se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade
média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia:
anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo (Aroso, 2003; Rebelo, 1993;
Reilly, 2005). No entanto, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem
desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994). A literatura
aponta para as 48 horas como sendo o limite mínimo para se estar recuperado de
um esforço com estas características. De um jogo de futebol resultam sempre dois
tipos de fadiga, a central e a periférica: A fadiga central diz respeito à
fadiga provocada no sistema nervoso central consequência do stress, dos
elevados níveis de concentração que são exigidos ao longo do jogo e do
constante processar de informação e consequentemente dar resposta à mesma; A
fadiga periferia ou muscular, é aquela que resulta da elevada concentração dos
substratos do metabolismo (Lactato, H+, Pi, ADP), provocando dor e
condicionando o movimento.
A literatura aponta para que a
eficiência do treino de recuperação é tanto maior quanto mais próximo esteja do
pós jogo, logo, quanto a mim, é um contra censo, o jogo se realizar no domingo
e o treino de recuperação ser realizado na terça-feira à tarde (equipas
profissionais ou semiprofissionais). A minha opinião vai no sentido de que este
deve ser realizado logo na segunda-feira de manha e só depois os jogadores
ficarem de folga (exemplo para um jogo por semana).
No que toca ao treino de
recuperação, o que eu proponho e defendo, é que este deve ser realizado o mais
próximo do pós jogo, defendo que em vez das habituais corridinhas de baixa
intensidade, se podem e devem criar exercícios e condições para valorizar esse
treino no sentido de o aproximar ao modelo de jogo de cada treinador, o passe e
o jogo posicional são aspectos transversais a todos os modelos de jogo
independentemente da importância que cada treinador lhe possa atribuir, pois
estes aspectos estão sempre presentes num jogo de futebol. Assim, quanto a mim,
podemos treinar estes aspectos (entre outros) enquanto se recupera; Exemplo,
num espaço reduzido, podemos efectuar exercícios de posse de bola ou jogos de
posição, em superioridade numérica, em que os jogadores em posse percorrem
pequenas distâncias para poder dar linhas de passe e receber a bola, os
jogadores sem posse procuram efectuar um oposição passiva, sem entrar ao homem
e sem qualquer tipo de agressividade, procurando apenas uma ocupação racional
do espaço (os jogadores devem trocar de funções). Este tipo de exercícios de
baixa intensidade visam, do ponto de vista físico, apenas aumentar o fluxo
sanguíneo nos grandes grupos musculares de forma a ajudar à remoção dos
substratos metabólicos, com a vantagem de podermos trabalhar questões importantes
do modelo de jogo adoptado, assim como aliviar a fadiga central, pois este tipo
de exercícios são bem mais atractivos para os jogadores que andar a correr à
volta do campo. O treino de recuperação deve contemplar os alongamentos, quer
estáticos quer dinâmicos, massagens, banhos quentes e frios. Este tipo de
"recuperação" pode também ser importante, tanto mais na medida em que
os jogadores acreditarem na validade dos mesmos.
Vitor Frade
defende que não há apenas uma forma de jogar e de treinar, logo não há nem pode
haver apenas uma forma de recuperar! Na minha opinião, a forma como se recupera
tem que estar intimamente ligada à forma como se joga e treina. As equipas de Top
Europeu, caracterizam o seu jogo como sendo de períodos de intensidade máxima e
como o seu treino assenta na periodização táctica e na especificidade, este
tipo de acções são treinadas,logo, há um recrutamento massivo das unidades motoras e
neurais, que são sempre as mesmas porque a necessidade de aperfeiçoar aqueles
comportamentos assim o exige.
Assim, é necessário recuperar dentro do
próprio treino, logo a periodização dos mesmos deve contemplar nas suas unidades
a recuperação durante exercício e entre exercícios.
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