quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Detecção de Talentos – Que Caminho Seguir?


O scouting e a detecção de novos talentos é cada vez mais, nos dias de hoje, uma área em crescendo no panorama futebolístico nacional. As áreas de observação e recrutamento de futebolistas e jovens futebolistas são cada vez mais vastas, chegando-nos atletas de todas as partes do globo.

A diversidade é, quanto a mim, um aspecto de valor incalculável. Termos jogadores provenientes dos quatro cantos do mundo é uma mais-valia, pois trazem consigo diferenças próprias e únicas dos seus locais de origem que enriquecem o nosso futebol. Porém, este recrutamento é feito cada vez mais cedo, a detecção de talentos é cada vez mais precoce. João Barnabé refere que: “Os medíocres atrasam o desenvolvimento dos jovens. O scouting está tão desenvolvido que os clubes compram o pintainho ainda antes deste sair do ovo. Normalmente fora do país”. Esta visão é partilhada por mim, pois creio que o recrutamento precoce, tirando as crianças da guarda dos pais, tirando-os da sua zona de conforto, poderá levar a que muitos destes se "percam".

No entanto e como gosto sempre de questionar o porquê das coisas, pergunto-me em que medida e em que quantidades devemos recrutar fora de portas? Não deveremos olhar primeiro para dentro na hora de recrutar (o futuro da selecção depende do recrutamento de jogadores nacionais)? Não haverá uma idade mínima para retirar as crianças da guarda dos pais?

Hoje os responsáveis pela detecção de talentos procuram ver características nos jovens atletas que se destaquem dos demais, nomeadamente a capacidade que estes têm de perceber o jogo (factor táctico), factores antropométricos, factores condicionais (Velocidade, força, resistência), factores e perfil psicológico, capacidade coordenativa e técnica, relacionamento com os colegas e treinadores. Como bem se compreenderá, estes são alguns aspectos importantes para que um determinado jogador chame a atenção de quem anda à procura de novos talentos. Depois, quem observa, tem de possuir a sensibilidade necessária para tentar visualizar se aquele atleta que se está a observar tem as qualidades necessárias para integrar a equipa para a qual este esta a fazer observação, se fará a diferença na mesma ou se será apenas mais um.

Neste contexto, creio que os jogadores que são observados devem ser alvo de várias observações, em diferentes contextos (jogos em casa e fora, em ambientes mais hostis e jogos de grande importância para a sua equipa), que quando chamados a prestar provas, estas devem ser de largos períodos e não apenas de um ou dois treinos, que mesmo que naquele momento não tenham condições de ficar devem continuar a ser observados e chamados a prestar provas periodicamente de modo a monitorizar-se e avaliar a sua evolução, que se deve valorizar uma ou outra característica e não colocar totalmente de parte o jovem jogador só pelo facto de naquele momento não se enquadrar dentro do padrão (veja-se o exemplo de Batistuta: este era uma criança com excesso de peso, Bielsa viu nele o grande goleador que mais tarde se revelaria).

Pergunto-me se não se deveria recrutar jogadores que se enquadrem no modelo de jogo, se não deveria existir um modelo de jogador que o clube pretende? Se não deveria haver por parte dos clubes um modelo de recrutamento bem definido e assente na cultura do clube? Normalmente recrutam-se os que mais se destacam na idade e no meio onde estão inseridos deixando para trás outros que pelo seu perfil se enquadrariam melhor no clube. O recrutamento deveria obedecer sempre a uma ideia de jogo e de jogador que o clube tem, que sejam jogadores capazes de atingir a equipa principal e não apenas obter vitórias nas fazes mais baixas do seu percurso desportivo. Para tal, o clube deve ter um modelo que vise formar jogadores para alimentar o plantel principal e não apenas ter bons resultados (vitórias) na base.

Estas são apenas algumas questões que proponho que sejam alvo de reflexão.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Físico VS Cognitivo


O futebol está, quanto a mim,  cada vez  a ficar mais igual, salvo as respectivas diferenças culturais existentes em cada futebol, está cada vez a ficar mais estandardizado.

As equipas dedicam cada vez mais tempo, das suas sessões de treino, a treinar os aspectos físicos e técnicos do jogo. Hoje, o treino físico já não encerra grandes segredos, pois à velocidade que a informação se propaga e num meio em que os seus técnicos dão tamanha importância ao treino destes aspectos, todos eles têm acesso a esta informação aplicando esta tipo “receita” nas suas sessões de treino.

Júlio Garganta refere que tem havido uma grande aposta no treino do Hardware e pouco ou nada do Software, esta maior incidência nos aspectos físicos e técnicos vai levar a que os jogo se torne mais idêntico.

A aposta no meu entender, deveria ir cada vez mais de encontro com os aspectos cognitivos, atencionais e decisionais do jogo. Durante um jogo de futebol os futebolistas têm que estar atentos a um sem fim de aspectos como bola, posição e acção dos colegas, aos adversários, baliza adversária e própria baliza, etc.. Devem decidir sobre pressão e em espaço físico e temporal, reduzido, logo o treino deve ir no sentido de melhorar estes aspectos, não descorando como é lógico aspectos físicos, técnicos, estratégico e claro a forma de jogar, mas antes criar exercícios que desenvolvam quer o “hardware quer o software” em simultâneo.

Implica portanto, que os técnicos tenham uma preparação anterior que lhes permita dominar estes novos aspectos do treino, que não matem os seu jogadores com treinos demasiado técnificados e sistematizado em unidades mais baixas (em idades mais jovens).

Por norma o treino que incide mais no físico e no técnico deve-se ao facto dos técnicos procurarem controlar ao máximo o que se passa no jogo e dando menos liberdade de decidir aos seus jogadores.

É imperativo que o treino assuma uma corrente do treinar diferente da actual, que se valorizem os aspectos cognitivos, atencionais e decisionais do jogo de modo a que tenhamos cada vez mais um futebol menos estandardizado.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Recuperação em Futebol




Nos últimos dias muito se tem falado se o Sporting está ou não apto para defrontar o Benfica. O motivo da divisão reside no facto de o Sporting, que teve jogo para a Liga Europa na Sexta-feira passada, voltaria a jogar contra o Benfica na Segunda-feira seguinte. Este é um tema que carrega em si alguma discórdia. O que me proponho, mais uma vez, não é trazer a público mais uma “receita” do que deve ser feito ou como deve ser feito, apenas pretendo partilhar uma visão de como se pode tratar esta questão tão importante para o treino de qualquer modalidade desportiva.
           
         No plano energético-funcional o futebol é caracterizado como um exercício acíclico e de longa duração, em que se combinam fases curtas de alta intensidade com longos períodos de intensidade média e baixa. Apela-se, por isso, aos três sistemas de produção de energia: anaeróbio aláctico, anaeróbio láctico e oxidativo (Aroso, 2003; Rebelo, 1993; Reilly, 2005). No entanto, os sistemas anaeróbio aláctico e oxidativo parecem desempenhar um papel de maior preponderância (Bangsbo,1994). A literatura aponta para as 48 horas como sendo o limite mínimo para se estar recuperado de um esforço com estas características. De um jogo de futebol resultam sempre dois tipos de fadiga, a central e a periférica: A fadiga central diz respeito à fadiga provocada no sistema nervoso central consequência do stress, dos elevados níveis de concentração que são exigidos ao longo do jogo e do constante processar de informação e consequentemente dar resposta à mesma; A fadiga periferia ou muscular, é aquela que resulta da elevada concentração dos substratos do metabolismo (Lactato, H+, Pi, ADP), provocando dor e condicionando o movimento.

            A literatura aponta para que a eficiência do treino de recuperação é tanto maior quanto mais próximo esteja do pós jogo, logo, quanto a mim, é um contra censo, o jogo se realizar no domingo e o treino de recuperação ser realizado na terça-feira à tarde (equipas profissionais ou semiprofissionais). A minha opinião vai no sentido de que este deve ser realizado logo na segunda-feira de manha e só depois os jogadores ficarem de folga (exemplo para um jogo por semana).

            No que toca ao treino de recuperação, o que eu proponho e defendo, é que este deve ser realizado o mais próximo do pós jogo, defendo que em vez das habituais corridinhas de baixa intensidade, se podem e devem criar exercícios e condições para valorizar esse treino no sentido de o aproximar ao modelo de jogo de cada treinador, o passe e o jogo posicional são aspectos transversais a todos os modelos de jogo independentemente da importância que cada treinador lhe possa atribuir, pois estes aspectos estão sempre presentes num jogo de futebol. Assim, quanto a mim, podemos treinar estes aspectos (entre outros) enquanto se recupera; Exemplo, num espaço reduzido, podemos efectuar exercícios de posse de bola ou jogos de posição, em superioridade numérica, em que os jogadores em posse percorrem pequenas distâncias para poder dar linhas de passe e receber a bola, os jogadores sem posse procuram efectuar um oposição passiva, sem entrar ao homem e sem qualquer tipo de agressividade, procurando apenas uma ocupação racional do espaço (os jogadores devem trocar de funções). Este tipo de exercícios de baixa intensidade visam, do ponto de vista físico, apenas aumentar o fluxo sanguíneo nos grandes grupos musculares de forma a ajudar à remoção dos substratos metabólicos, com a vantagem de podermos trabalhar questões importantes do modelo de jogo adoptado, assim como aliviar a fadiga central, pois este tipo de exercícios são bem mais atractivos para os jogadores que andar a correr à volta do campo. O treino de recuperação deve contemplar os alongamentos, quer estáticos quer dinâmicos, massagens, banhos quentes e frios. Este tipo de "recuperação" pode também ser importante, tanto mais na medida em que os jogadores acreditarem na validade dos mesmos.

        Vitor Frade defende que não há apenas uma forma de jogar e de treinar, logo não há nem pode haver apenas uma forma de recuperar! Na minha opinião, a forma como se recupera tem que estar intimamente ligada à forma como se joga e treina. As equipas de Top Europeu, caracterizam o seu jogo como sendo de períodos de intensidade máxima e como o seu treino assenta na periodização táctica e na especificidade, este tipo de acções são treinadas,logo, há um recrutamento massivo das unidades motoras e neurais, que são sempre as mesmas porque a necessidade de aperfeiçoar aqueles comportamentos assim o exige.

       Assim, é necessário recuperar dentro do próprio treino, logo a periodização dos mesmos deve contemplar nas suas unidades a recuperação durante exercício e entre exercícios.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Os Riscos da Cópia



A construção de uma forma de jogar é algo que requer, por parte de todos os intervenientes neste fenómeno, uma grande preparação e um conhecimento profundo dos vários domínios que estão associados ao treino.

É frequente verificar que os modelos que mais sucesso obtêm são copiados pelas restantes equipas, recordo-me, no primeiro ano em que o Futebol Clube do Porto, treinado por José Mourinho, obteve o título de campeão nacional e vencedor da Taça UEFA, jogava num sistema de 4-3-3 e as restantes equipas apresentavam o 4-4-2 como sistema táctico mais utilizado. O sucesso alcançado por José Mourinho foi de tal ordem impressionante para quem tinha acabado de chegar a um clube de top Nacional, que na época seguinte, grande parte das equipas da Primeira Liga tinham adoptado o seu sistema táctico.

A história mostra que após Mourinho, para além de André Villas Boas, ninguém teve tamanho sucesso numa só época desportiva em Portugal, mesmo após tantos procurarem copiar o sistema táctico vencedor de José Mourinho.

Actualmente, e mais uma vez porque foi alvo de um sucesso sem precedentes, o Barcelona de Pep Guardiola é o modelo que todos desejam, mas sem sucesso copiar.

A minha reflexão hoje vai precisamente para este fenómeno, o de se procurar copiar o que com outros teve sucesso. Acredito de forma convicta que se deve aprender com quem teve êxito. Porém, também acredito que não se podem repetir êxitos com a mesma fórmula em contextos diferentes, os modelos que tem sucesso devem, quanto a mim, ser alvo de estudo, olhar para eles com um olhar critico, ver de que forma é que estes podem ter sucesso num ambiente totalmente diferente, com interpretes totalmente diferentes, se devem ou não ser alvo de alterações, de adaptações. Cada homem, cada treinador, é único, um ser impar, o seu olhar, a sua acção sobre um determinado fenómeno será sempre única, irreproduzível por mais alguém! Logo, quanto a mim, não faz sentido andar a tentar copiar na íntegra o que com outros foi um êxito.

Mourinho jamais seria Mourinho se procurasse imitar os seus mentores! Ele é o treinador que todos conhecemos porque sempre teve a capacidade de não copiar na, íntegra, as fórmulas que bem conhecia terem sucesso. O seu espirito critico e a sua capacidade de absorver e tratar informação, associadas a tantas outras qualidades que fazem dele o líder de excelência que hoje.

Guardiola, um homem sábio e profundo conhecedor do seu clube do coração, também não se limitou a copiar o que os seus antecessores fizeram no clube... inovou, deu o seu toque tão único e irrepetível, pois Guardiola há só um, só ele consegue ver através dos seus olhos.

Johan Cruyff pintou a capela, cabe a cada treinador do Barça a ir restaurando e melhorando (Guardiola).